Apesar de campeão em devoção no Nordeste brasileiro, Santo Antônio é um cara modesto quando se trata de festa. Abre os festejos de junho, no dia 13, com mais reza que bandeirola. Imperador do ciclo junino, São João pega o bastão no dia 24. Haja bomba, licor e forró até o sol raiar.
Aí vem São Pedro. Humilde como Antônio, eis que Pedro — celebrado oficialmente na segunda-feira (29) — se faz pedra em algumas cidades do interior da Bahia. A festa não acabou!
Nos casos de municípios como Muritiba, Serrinha, Itiruçu e Eunápolis – só para ficar com alguns exemplos – São Pedro não só é grande como bota o próprio São João no bolso. Nesses redutos, já é tradição fazer festa profana para o primeiro papa e dono das chaves dos céus.
As explicações misturam religiosidade, crenças populares e negócios. Talvez o caso mais peculiar, Muritiba, no Recôncavo, consegue fazer um São Pedro em que o sagrado e o profano praticamente se fundem. Pra começar, Pedro é o padroeiro da cidade, que não faz festa para São João.
Diante disso, padre e prefeito se juntam para fazer o que muitos consideram o melhor São Pedro da Bahia. Enquanto a prefeitura investe R$ 500 mil em grandes atrações como Adelmário Coelho (veja box), o padre quer aproveitar para evangelizar quem cai no arrasta-pé.
“Vejo essa mistura (com a festa profana) como uma oportunidade muito fértil da Igreja evangelizar. A Igreja não pode andar separada da cultura, nem da sociedade. Se ela se fecha, numa atitude moralista, elitista, só vai acolher os de sempre”, afirma padre Josevaldo Carvalho Nascimento, filho de Muritiba, que assumiu a paróquia no recesso do padre José.
“Padre José comunga dessa ideia. Quem disse que fazer festa é proibido? Em João, Jesus transforma água em vinho”. Cerca de 10 mil pessoas por dia devem marcar presença em Muritiba. O prefeito comemora o fato de ter o maior São Pedro da região.
Se fizesse São João, não poderia competir com cidades maiores. “Optamos pelo São Pedro primeiro pela tradição e segundo porque seria muito difícil competir no São João com Cachoeira, Amargosa, Santo Antônio e Cruz das Almas”, diz o prefeito Roque Luiz.
A devoção a São Pedro na região de Muritiba é anterior ao surgimento da própria cidade. A paróquia de São Pedro do Monte da Muritiba foi criada há 310 anos. O município de Muritiba ainda vai fazer 100. Talvez por isso, sagrado e profano se respeitem tanto.
“A gente tem um relacionamento extremamente positivo com os organizadores da parte religiosa para ter todo cuidado de não descaracterizar as duas”.
Itiruçu
Nos últimos anos, Itiruçu, na microrregião de Jequié, também se tornou um dos destinos mais procurados no São Pedro. Mais de 40 mil pessoas devem visitar a cidade de 15 mil habitantes entre os dias 3 e 5 de julho.
“A cidade fica lotada. Difícil você achar hotel ou pousada. Talvez ache casa pra alugar”, afirma Simone Nunes, coordenadora da festa, que considera o São Pedro a principal manifestação cultural do município.
Segundo a prefeitura, a tradição do São Pedro de Itiruçu se iniciou na década de 1990, por uma coincidência curiosa. À época, tanto prefeito quanto vice-prefeito se chamavam Pedro. Já que a cidade não tinha São João forte, Pedro Pimentel e Pedro Leite resolveram fazer um São Pedro decente.
Este ano o investimento será de R$ 200 mil. “Por conta da crise, o prefeito pediu que fizesse uma coisa menor. Mas vai ser igualmente bonito”, aposta o chefe de gabinete, Ivan Cerqueira. Paralelo ao São Pedro na praça pública, acontece uma festa fechada para 8 mil pessoas, o “Forró Coffee”, realizada numa fazenda de café e o Forró Caqui, realizado no espaço Emerson Show. (mais…)