Para além da postura do Governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), de mandar ação policial com cães pitbull para cima de professores em greve no Estado do Paraná, de quem não poderíamos esperar posicionamento diferente, o que me chama a atenção em tudo isso, é como somos colocados uns contra os outros neste processo de precarização dos serviços públicos. Os policiais são servidores públicos como nós e sofrem as mesmas dificuldades.
Como servidores públicos, temos as mesmas lutas. No entanto, somos colocados para brigar uns com os outros, em condições adversas, trabalhadores armados com cassetete, bombas, bala de borracha e cães contra trabalhadores armados de indignação, que claro, usam umas pedras quando podem. E o pior, é que não refletimos sobre essa questão. Vemos policiais com “água na boca” de tanto prazer em “descer o pau” nos professores, nos iguais. Enquanto isso, os governantes e seus vassalos do alto de seus gabinetes refrigerados filmam tudo do palácio do poder tomando um cafezinho, se divertindo com a batalha medieval, como nos tempos de efervescência das Arenas Medievais. Só que aqui não há simulação de batalhas, as batalhas são reais e desleais.
A mesma coisa acontece quando a situação é inversa, quando os policiais fazem suas manifestações e reivindicam seus direitos, somos os primeiros a condenar. Falta reflexão crítica, falta cada vez mais consciência de classe! E seguimos digladiando entre nós, servindo de espetáculo para nossos governantes.
Em resumo, estamos assistindo cada vez mais o sucateamento do serviço público, e os governos ao invés de procurar formas de fortalecimento do serviço público usam todo esse desmonte para justificar a terceirização e a privatização. Se o serviço público não funciona, ao invés de qualifica-lo é melhor contratar uma empresa ou delegar de vez esse serviço a iniciativa privada. Em síntese, se não tenho competência para qualificar o serviço publico é melhor então entrega-lo para iniciativa privada, acabar com a carreira pública.
Não podemos ser ingênuos, muitas pessoas ao alçarem a carreira pública se acomodam e acham que são intocáveis, contribuindo para esse discurso de que o serviço público não presta. Mas, essas pessoas não são a maioria, e há ai também uma responsabilidade dos que assumem a gestão pública de nem sempre exercem essa gestão, sobretudo de pessoal.
O que quero destacar, é que o problema não está na ação policial, não está nas manifestações dos professores, não está entre nós, e sim nas ações dos governantes que elegemos, pois eles estão cada vez mais levando o Brasil para consolidação de um Estado Mínimo, entregue para o capital financeiro. A carreira pública está em risco, e o pior, os que estão comandando esse processo não são os que sempre defenderam isso, mas os que sempre condenaram.
Vamos ver alguns exemplos concretos. No Estado da Bahia, ao invés de qualificar a gestão da Cesta do Povo, é melhor vende-la para iniciativa privada, pois o “Estado não pode ter supermercado”. A Cesta do Povo funciona em muitos municípios como reguladora dos preços dos produtos de primeira necessidade, evitando os abusos da iniciativa privada. Ai o Estado abre mão de uma ação importante, sobre o pretexto de modernização da gestão.
No âmbito nacional vemos o governo anunciar que uma das alternativas para superação da crise econômica é a privatização, como forma de cortar gastos públicos. Ora, para que serve o Estado mesmo? Estão abrindo mão de tudo, e quem mais sofre são os que mais precisam deste Estado. A ineficiência, a corrupção, a incompetência na gestão pública tem sido pauta dos noticiários diários não por acaso. É para que sejamos convencidos de que o serviço público não funciona, e o melhor é entrega-lo a iniciativa privada.
Cuidado juízes, promotores, como não se investe no judiciário, daqui a pouco escritórios de advocacia estarão sendo terceirizados para dar conta da celeridade nos inúmeros processos que não andam na justiça por incompetência dos juízes e promotores. Quanto aos médicos eu nem falo, pois já existem inúmeros hospitais públicos onde os serviços médicos são terceirizados. Serviços de limpeza pública, alimentação escolar, elaboração de projetos, contabilidade, etc… Já existem tantas coisas privatizadas na gestão pública. Existem lugares que até os professores da educação básica são contratados via empresas terceirizadas. Todo secretário na gestão pública precisa ter um assessor, que nada mais é do que um elemento de uma consultoria terceirizada que é contratado para fazer o trabalho do secretário.
Quando esse processo já estiver consolidado, o que não está longe, não precisaremos nos preocupar em ficar brigando entre nós nas manifestações, pois não haverá essa possibilidade, uma vez que não sendo servidores públicos, perderemos a estabilidade do cargo, e com a iniciativa privada o “papo é reto”: não está satisfeito, tchau! Ah, mas não se preocupe, uma vez que, no futuro de amanhã nós, os terceirizados teremos a aprovação do PL 4330, e com isso todos os direitos garantidos e receberemos direitinho o tempo de serviço, Fundo de Garantia, etc., afinal, não é isso que importa neste momento, garantir direitos?
Renê Silva, Mestre em Educação (UESB)
Colunista do Blog Itiruçu Online