Ao longe estava ouvindo um aboio (entoada de vaquejada que relata em canto a lida com o gado) e essa sonoridade, me levou aos bons tempos de vaquejada na Boa Terra e na região, e dos tempos em que se tocava o gado pelas ruas da cidade. E nessa arte de tocar gado, não tem como não lembrar de Ives Fontoura, Milton Serra Véia e o Vaqueiro Grilo do Cruzeiro. Todos com seu jaleco de couro bem trabalhado, cavalos bem selados, chapéu de couro já gasto pelo tempo e na garganta a firmeza de quem sabia conduzir o rebanho “ê boi!”. Eles tinham a arte de fazer isso com maestria e era bonito de se ver. De vez em quando pelas manhãs ou finalzinho das tardes, eles remanejavam o gado de uma fazenda para outra em busca de melhores pastos. Como na rua sempre tinha um ou outro para alardear o fato, ouviam-se os gritos: “Corre pra dentro que lá vem boi!”, “Fecha a porta da rua para o boi não entrar ‘dentro’ de casa!”, “Cuidado que tem vaca parida!”, “Tem boi brabo no meio!” e era aquele corre-corre.
Muitos aboim como eu, corriam e ficavam pela greta da janela olhando a boiada passar e sempre tinha um boi brabo que desgarrava e saía desembestado pelas ruas causando aquele alvoroço.
Como não lembrar também das grandes vaquejadas? Vaquejada de Luís Lula. Essa era uma das grandes e esperadas festas da nossa cidade. Nesta época não tinha grandes shows. Bastava uma sanfona, um triangulo e uma zabumba encima de um caminhão 1113 e a festa comia no centro. Como o circuito ficava no alto, quem passava pela rodagem (linguagem muito comum usada por moradores da Zonal Rural, referindo-se a estrada) com destino a Várzea, avistava o poeirão subindo e o locutor Jota “Jogão” Lemos narrando: “Valeu boi!”.
O máximo da festa, era sempre no domingo. Muitas pessoas caprichavam no “look”: as mulheres passavam o sábado de bob para no domingo apresentar os seus cabelos cacheados e os homens caprichavam a barba e os cabelos com Zezé Bocão, Brás, Zé Bujudo, Jurandir, Durvalino e Dadá, cada um na sua elegância. Quando chegava no domingo, o perfume Charisma da Avon se misturava com Alfazema e os ares ficavam com ar de paixão. Beleza que não era diferente nas vaquejadas de Pedro Encrenca (Lajedo do Tabocal) e na Santana (na Fazenda de Licinho Pires), em Maracás. Nos bons tempos das boas vaquejadas, tínhamos na nossa Boa Terra, os arrebatadores de prêmios: Júnior de Iagil e Mengo de Viucci. Parceria que impôs respeito na vaqueirama e graças a eles, a nossa cidade sempre foi destaque na Bahia.
Êta tempo bom!
Hoje o vento da saudade abraçou-me com a poeira das boas lembranças e uma lágrima de “Valeu boi!” banhou-me o rosto.
Valeu boi: E viva a riqueza da nossa cultura popular!
Joselito Fróes