O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse neste domingo (9) que anunciará na segunda-feira (10) tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio para o país, uma nova escalada de sua revisão da política comercial que pode afetar o Brasil. Os produtos semi-acabados de aço estão entre os principais produtos exportados pelo Brasil para os EUA, ao lado do petróleo bruto, produtos semi-acabados de ferro e aeronaves.
Segundo dados do governo americano, entre novembro de 2023 e novembro de 2024 o Canadá foi o maior fornecedor de aço, em volume, para os americanos, com 22,6% do total, seguido pelo Brasil (16,4%, com 4 milhões de toneladas) e o México (11,9%). O Brasil ficou atrás do México em valores: recebeu US$ 2,9 bilhões, contra US$ 3,2 bilhões dos mexicanos e US$ 6,64 bilhões dos canadenses. Em 2018, no seu primeiro mandato, Donald Trump também aplicou uma tarifa de 25% sobre o aço importado pelos Estados Unidos. Dois anos depois, o governo americano excluiu a cota de importação de aço semi-acabado do Brasil. Em 2022, sob Joe Biden, os norte-americanos revogaram as medidas restritivas.
A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse que as novas tarifas se somarão às taxas existentes sobre aço e alumínio. Em 2023, os EUA importaram US$ 50,5 bilhões em aço e US$ 27,4 bilhões em alumínio, enquanto exportaram US$ 22,8 bilhões e US$ 14,3 bilhões, respectivamente. Em coletiva de imprensa no Air Force One, avião oficial da Presidência dos EUA, Trump também disse que anunciará tarifas recíprocas para países que tarifarão dos EUA na terça ou quarta-feira que entrarão em vigor quase imediatamente.
Por uma grande margem, o Canadá é o maior fornecedor de alumínio primário para os EUA, respondendo por 79% do total das importações nos primeiros 11 meses de 2024. O México é um importante fornecedor de sucata de alumínio e liga de alumínio.
Para um membro do governo brasileiro, a sobretaxa anunciada por Trump tem o objetivo de atingir a China, principal alvo dos discursos protecionistas do presidente americano. O Itamaraty disse não conhecer os detalhes da medida, que só será anunciada nesta segunda.
“O Brasil teve sobretaxa no alumínio e cota no aço que acabou prejudicando muitas exportações brasileiras para lá, e, com mais essa tarifa de 25%, vai ficar mais complicado de exportar para o mercado americano”, disse Welber Barral, ex-secretário de comércio exterior e sócio do escritório Barral Parente Pinheiro Advogados.
Procurados, a Abal (Associação Brasileira do Alumínio), o Itamaraty, o Planalto e o Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) não se manifestaram até a publicação desta reportagem. O Instituto Aço Brasil (associação das siderúrgicas do país) disse que aguardará o anúncio desta segunda para se posicionar.
As exportações brasileiras de aço atingiram, de janeiro a dezembro de 2024, 9,6 milhões de toneladas (ou US$ 7,7 bilhões). Os valores representam, respectivamente, redução de 18,1% e de 21,9% na comparação com o mesmo período de 2023.
No ano passado, os Estados Unidos foram destinados a 54,1% (em dólares) das exportações de produtos siderúrgicos brasileiros.
O anúncio acontece depois que Trump prometeu bloquear a aquisição da siderúrgica US Steel pela japonesa Nippon Steel, seguindo a decisão de Joe Biden de fazer o mesmo, e em meio a uma subutilização das usinas americanas nos últimos anos.
O atual mandatário, no entanto, afirmou que trabalharia para permitir um grande investimento, embora não fosse uma participação majoritária, na empresa por sua rival asiática, e insistiu que as tarifas ajudariam.
O plano de tarifas de importação sobre metais reacendem preocupações no país de que as políticas econômicas do republicano podem desencadear um novo aumento da inflação, um dos principais motivos de insatisfação dos americanos com o governo Biden.
Trump ainda não especificou como pretende aplicar as tarifas sobre o aço e o alumínio nem detalhou as taxas recíprocas que prometeu anunciar nos próximos dias.
Trump disse na sexta (7) que importaria “tarifas recíprocas” —elevando as taxas dos EUA para igualar as dos parceiros comerciais— sobre muitos países nesta semana. Ele não citou os países, mas as tarifas seriam impostas “para que sejamos tratados de forma igualitária com outros países”.
A Reportagem da Folha mostrou que, a pedido do vice-presidente Geraldo Alckmin, o Médico elabora um mapeamento dos setores mais afetados pela guerra comercial deflagrada por Trump.
A estratégia dos gabinetes em Brasília que trata as relações comerciais tem sido de cautela e silêncio, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse publicamente mais de uma vez que o Brasil reagirá caso Trump imponha tarifas sobre os produtos brasileiros.
Entre os técnicos ouvidos, ninguém duvida que o Brasil poderá virar alvo de Trump em um segundo momento. A ordem agora é não atrai atenção para “não ser lembrado” pelo novo governo dos EUA.
Os setores de aço, máquinas e equipamentos, carne e combustíveis estão na lista dos que podem ser mais prejudicados. O Brasil exporta petróleo bruto para os EUA e importa petróleo orgânico, além de ser muito dependente das empresas americanas de semicondutores.
Neste domingo, a China impôs tarifas de retaliação aos EUA que devem atingir cerca de US$ 14 bilhões (R$ 81,2 bilhões) em mercadorias americanas.
Pequim anunciou as tarifas na semana passada em resposta a uma decisão dos EUA de importar uma taxa adicional de 10% sobre produtos chineses, que o presidente Donald Trump chamou de “primeiro tiro” em uma nova ofensiva comercial contra a China.
A embaixada da China em Washington disse que as tarifas entraram em vigor à 0h01 de segunda-feira (10) em Pequim, 11h01 de domingo em Washington.
Os mercados financeiros inicialmente esperavam que Trump pudesse seguir o mesmo roteiro com a China como fez com o Canadá e o México —contra os quais também anunciaram tarifas, mas depois deu um mês de trégua após negociações de última hora com seus líderes.
Trump sugeriu que falaria com o líder chinês Xi Jinping, mas depois disse que não tinha “pressa”.
Gustavo Soares, Douglas Gavras, Lucas Marchesini e Pedro S. Teixeira/Folhapress