Um terremoto de magnitude 7,2 atingiu o Haiti na manhã deste sábado (14), causando destruição principalmente no sul do país e deixando ao menos 227 mortos, além de centenas de feridos e desaparecidos, segundo o governo. O sismo foi registrado às 8h29 locais (9h29 de Brasília) e seu epicentro foi no noroeste da ilha de Hispaniola, a 160 km da capital haitiana, Porto Príncipe. Dez minutos depois, houve uma réplica de magnitude 5,2.
O embaixador do Brasil em Porto Príncipe, Marcelo Baumbach, afirmou que não há brasileiros entre as vítimas da tragédia. As autoridades já entraram em contato com os residentes na ilha. “O terremoto atingiu principalmente a região de Jérémie, onde as construções são mais precárias. Foi sentido também em Porto Príncipe, mas menos.”, disse. “A internet está funcionando na capital e tem sido o principal meio de comunicação para informar sobre o ocorrido.”
Nas redes sociais, vídeos gravados por moradores mostravam prédios residenciais derrubados e pessoas correndo em meio a escombros e gritando.
Os principais danos teriam ocorrido nas cidades de Jérémie e Les Cayes. Há imagens de edifícios religiosos, casas e escolas que teriam sido afetados.
O primeiro-ministro da Haiti, Ariel Henry, decretou estado de emergência com duração prevista para um mês.
Em rede social, o premiê, que tomou posse há menos de um mês, prestou solidariedade. “Apresento minhas condolências aos parentes das vítimas do violento terremoto que ocasionou muitas perdas em vidas humanas e materiais em vários departamentos do país”, escreveu.
O senador Gabriel Fortuné, ex-prefeito de Cayes, foi encontrado morto, soterrado pelos escombros de um hotel na cidade onde participava de uma reunião.
A Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos EUA chegou a emitir um alerta de tsunami na costa do Haiti, que logo foi cancelado.
“Eu estava fazendo exercícios pela manhã, quanto perdi o pé e caí no chão. Olhei para o teto e vi o lustre balançando”, disse à Folha Akim Kikonda, líder da ONG Catholic Relief Services, desde Porto Príncipe.
Segundo informações de sua equipe, que está em Les Cayes e em Jérémie, vários edifícios vieram abaixo, principalmente moradias, mas também uma igreja e estabelecimentos do governo. Os hospitais estão lotados e tendo de recusar pacientes por não poderem dar atendimento a todos.
As ambulâncias e outros veículos com doações enviadas por várias ONGs, por sua vez, não conseguem chegar à região, porque a principal estrada que liga Les Cayes a Porto Príncipe sofreu um deslizamento por conta do terremoto e está bloqueada.
“Nosso desafio agora é como chegar lá com os elementos que essas pessoas precisam: alimento, água, remédios.”
“Acordei e não tive tempo de colocar os sapatos. Nós vivemos o terremoto de 2010, e tudo o que pude fazer foi correr, minha cama estava tremendo. Todos gritavam para que saíssemos às ruas”, disse Naomi Verneus, 34, à agência de notícias Reuters.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse no Twitter que está acompanhando a mais recente tragédia em curso no Haiti. Envio meus sentimentos a todos os afetados pelo terremoto. Minhas profundas condolências a todos que perderam familiares e amigos. A ONU está trabalhando para apoiar os esforços de resgate e assistência, afirmou.
O terremoto chega em um momento de instabilidade política e de crise econômica do país. No último dia 7 de julho, o então presidente Jovenel Moïse foi assassinado a tiros em sua casa por um grupo de mercenários. A primeira-dama Martine também ficou ferida.
Os tremores deste sábado foram sentidos também na ilha de Cuba, na Jamaica e até no sul da Flórida, embora não haja, até o momento, relatos de mortes, feridos ou danos materiais. O centro de sismologia cubano disse ter registrado um terremoto de magnitude 7,4.
“Todo mundo está realmente com medo. Já se passaram anos desde um terremoto tão grande”, disse Daniel Ross, morador da província cubana de Guantánamo, à Reuters. Ele informou que sua casa está firme, mas a mobília balançou.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, aprovou ajuda “imediata” ao Haiti e designou a diretora da Usaid (a agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional), Samantha Power, para coordenar o esforço, disse um funcionário da Casa Branca a repórteres.
Há 11 anos, um terremoto de magnitude 7 causou uma terrível destruição no Haiti. Foram mais de 200 mil mortos, 300 mil feridos e 1,5 milhão de desabrigados. Milhares de casas, edifícios administrativos e escolas, além de 60% do sistema de saúde haitiano, foram destruídos na ocasião.
A tragédia se refletiu em uma década de instabilidade e promessas não cumpridas de desenvolvimento que sao sentidas até hoje. O país vive crônica instabilidade política, que não raro se traduz em manifestações violentas nas ruas e no fortalecimento de gangues locais.