Você já está cansado de saber: a greve dos caminhoneiros parou o Brasil (aliás, preparamos esse post aqui, para ajudar a entender um pouco melhor o cenário). Mas não foram os colegas de Pedro e Bino que inventaram as paralisações trabalhistas. A história das greves é quase tão antiga quanto a própria história. Então pare o que está fazendo e olhe para trás, o passado grevista pode te ensinar alguma coisa – enquanto você espera o ônibus com frota reduzida.
Direto da Tumba
No Egito antigo só tinha uma coisa mais importante que a vida do faraó: a morte do faraó. Mumificações, construções de templos, rituais, artefatos, tudo girava em torno do momento em que o líder do reinado fosse dessa pra uma melhor. E grande parte dessa responsabilidade caía especialmente sobre um seleto grupo de profissionais egípcios, os construtores de tumba. Membros de linhagens familiares que, há gerações, cuidavam especificamente do recinto em que os corpos dos faraós ficavam após a morte, os artesãos que trabalhavam nas tumbas formavam uma das categorias mais bem remuneradas do Egito. Pelo menos, em valor de mercado. Pesquisadores alemães encontraram registros do ano de 1152 a.C. que mostram o descontentamento dos trabalhadores após um atraso de quase um mês no seu pagamento. Foi quando os construtores largaram as ferramentas, e rumaram sentido ao palácio do faraó, clamando pelo pagamento. Foi a primeira greve já registrada.
Habbemus Greve
Secessio Plebis, é um termo em latim que pode ser traduzido para algo como “Secessão da plebe”. Se os egípcios realizaram a primeira greve, organizada por uma elite e visando os benefícios de um único grupo, coube aos romanos a primeira greve geral. Acontece que no Império Romano não tinha Serasa. Os Patrícios eram o grupo com maior concentração de renda. Se eles te emprestavam um grana ou cediam um espaço para você construir uma casa e você não conseguia pagar, a pena era nada a menos do que uma vida de servidão. Os devedores eram condenados à escravidão. O povo, como é fácil imaginar, não gostava muito dessa regra, principalmente porque as principais vítimas dessa história tendiam a ser justamente os membros do exército que saíam da cidade para guerrear por Roma. Enquanto eles estavam fora, suas esposas e parentes tendiam a fazer dívidas para sobreviver – e quando eles voltavam o montante já era alto demais para ser pago. Em 495 a.C. os romanos plebeus se rebelaram. Pediram um posicionamento do Senado – que, por medo, não se manifestou. Os plebeus não só cruzaram os braços, como deixaram a cidade. Os trabalhadores rumaram para a cidade vizinha de Monte Sacro, a 5 km de Roma. As consequências apareceram rápido: os plebeus eram os responsáveis pelas colheitas e logo a cidade ficou sem alimentos. Foi quando o governo cedeu: a plebe teria representantes no poder legislativo. Só então os trabalhadores voltaram à cidade.
Ordem e Progresso
A primeira greve registrada no Brasil ocorreu em 1858. Os responsáveis foram quem registrava os acontecimentos: os tipógrafos, que foram os primeiros brasileiros a cruzar os braços. Os trabalhadores afirmavam que a tarefa, que consistia em revisar, organizar e publicar os textos de jornais, era muito mal remunerada e que não havia condições básicas para esse tipo de trabalho. A paralisação, que envolveu apenas 83 grevistas parou a produção do Jornal do Comércio, do Correio Mercantil e do Diário do Rio de Janeiro. A única publicação impressa que rodava na Cidade Maravilhosa (à época capital do país) era o Jornal dos Typographos, um folhetim que divulgava as reivindicações do grupo: direito a férias e aumento salarial.
Work Work Work
Você tem direito a uma folga no dia 1º de maio. E você só pode ficar sem trabalhar na data porque há uns 130 anos, em 1886, os trabalhadores do EUA realizaram sua mais importante greve geral – que hoje é comemorada com o Dia do Trabalho. Com a participação de mais de 200 mil trabalhadores, o movimento começou após um funcionário da ferroviária Union Pacific ser demitido por ir à uma reunião sindical. A paralisação, então, começou a reivindicar direitos trabalhistas, como uma jornada de trabalho de, no máximo, 8 horas diárias. Alguns trabalhadores ficaram sem trabalhar por dois meses – o que resultou na criação da Central Sindical Americana.
Girl Power
Outro feriado grevista é comemorado no dia 8 de março. O dia da Mulher homenageia as 90 mil trabalhadoras de São Petesburgo que largaram as atividades e protestaram contra a fome e as condições precárias de trabalho que imperavam na Rússia em 1917. A ação foi tão significativa que é considerada o início da Revolução Russa, que acabou com o império czarista.
Caminho das Índias
Mais recentemente, em 2016, a Índia foi palco da maior greve já registrada: no dia 2 de setembro daquele ano, 180 milhões de indianos não foram trabalhar. Durante 24 horas, os principais serviços do país, públicos e privados, não funcionaram. Os participantes protestavam contra a política de privatizações do governo e reivindicavam aumentos salariais – incluindo o salário mínimo. Conseguiram. A remuneração base do país aumentou 42%.