Dentro do carro, no trânsito caótico de São Paulo, o forró no rádio é interrompido pela voz impostada do locutor: “O Rei da Cacimbinha, Jhon Falcão, O-RI-GI-NAL”, anuncia. Sobe o som de uma música no ritmo da quebradeira baiana: “A muriçoca-çoca-çoca-çoca, a muriçoca pica pica pica”.
No banco da frente do carro, o próprio Rei da Cacimbinha estava chateado e de ressaca. “Olha aí o que a gente tem que fazer agora. Tem que falar que eu sou o original”, diz. O porre do dia anterior nada tinha a ver com os genéricos “Rei da Cachimbinha” ou “Banda Cacimbinha”. “Minha mulher me pegou com uma menina. Bateu em mim, me bloqueou no ‘Periscope’”.
Jhon Falcão é hoje um dos maiores fenômenos da internet. Natural de Vitória da Conquista, na Bahia, o cantor lidera as buscas no Google na região baiana, é o número 1 de downloads nos sites ilegais de MP3 e já soma mais de 20 milhões de visualização no YouTube desde que apareceu, há sete meses. Até Neymar se rendeu ao “arrochadeira”, uma mistura de arrocha com quebradeira, e gravou vídeo dublando o sucesso “Pop 100″. Na conta de Jhon, o salário é de R$ 100 mil.
Há exatamente um ano, Jhon –que na verdade se chama Hélio Pires Medeiros e tem 28 anos– trabalhava em uma loja de conveniência de um posto de combustível e ganhava R$ 800. Desde os 14 anos, ele vislumbrava uma carreira no pagode baiano, até então sem sucesso. “Era a mesma coisa que eu faço hoje, mas normal”. (mais…)