Depois do sucesso de Anésia Cauaçu, o escritor Domingos Ailton publica outro romance, também pela editora Via Litterarum, com ilustração original de Nayla Passos. Antônio Burokô é o título do novo livro do ficcionista jequieense, que narra a história de resistência da religiosidade e cultura afro no sertão de Jequié.
A mitologia popular afro-brasileira com o fascínio dos orixás, as festas e a resistência do povo de santo à perseguição contra a religiosidade e cultura de origem africana, os saberes e fazeres populares de tradição oral, expressões culturais, a exemplo do grupo de capoeira Banda da Lua e personagens envolventes como Antônio Burokô, Nininha Preta, Lubião, Jerônimo Carvalho, Natur de Assis, Colombo de Novaes, Chico Rebouças, Maria Megê, Irineu Neves e Maria Xangô, compõem o universo deste romance.
Assim como fez em Anésia Cauaçu, Domingos Ailton também mistura ficção e fatos reais em Antônio Burokô, que tem como cenário a histórica cidade de Cachoeira, no Recôncavo Baiano, o sertão de Jequié e Salvador, a secular “cidade da Bahia”.
Na década de 1940 quando o delegado Aníbal Cajaíba de Oliveira persegue em Jequié terreiros de Candomblé, afoxés, batucadas, grupos de capoeira e outras manifestações da religiosidade e da cultura afro-brasileira, o pai de santo Antônio Burokô, proveniente de Cachoeira, chega na cidade e, com sua força espiritual, deixa confusa e faz até a polícia sambar; os capoeirista do Banda da Lua enfrentam a repressão policial com os golpes dinâmicos e criativos do gingado da capoeira. O contexto político da época, com as discussões e atuações de intelectuais jequieenses durante o período do Estado Novo e da Segunda Guerra Mundial, também faz parte desta produção literária.
Baseado em fatos reais, Antônio Burokô, de Domingos Ailton, faz um passeio pelo universo da religiosidade e da cultura popular baiana. Descreve, de maneira etnográfica, expressões da religiosidade e das manifestações cultuais da Bahia como o caruru para os santos gêmeos Cosme e Damião, a procissão marítima de Nosso Senhor dos Navegantes, a Lavagem do Bonfim, a Festa de Iemanjá, a Romaria de Bom Jesus da Lapa, a riqueza cultural do bairro Joaquim Romão e o Carnaval em Jequié, além de fazer referência aos guardiões da memória, chamados pelo autor de “museus vivos do povo”, que contam episódios da luta da população pela independência na Bahia. (mais…)