Às vezes compreender o ciclo da vida por mais que se saiba como é que ela funciona, é um tanto quanto impossível. Existem pessoas que deveriam viver além do que lhe foi destinado, não quero dizer que a vida deveria ser eterna em carne (porque ela já é em sentimentos e em espírito), mas que deveria viver uns 150, 200 anos e que todas as gerações deveriam conhecer as qualidades das pessoas que vieram a esse mundo com o proposito de fazer o bem, de arrancar de você o mais belo sorriso, de fazer você transportar a uma vida num tempo em que você não viveu e sentir saudades sem nem mesmo ter tido a oportunidade de ter vivido aquela época. Lembro-me que na terra de José Inácio tinha um senhor por nome Agnaldo Pires, conhecido também como Gau Pires ou Gau de Biinha, ele tinha essa magia.
Gau tinha um dom dado por Deus, o dom de contar historia de uma maneira própria, particular, bem dele e que falava com maestria do cotidiano da nossa terra. Com ele, as historias tinham um aconchego a mais, saboreado ao toque de humor, mas que não fugiam as suas realidades. Gau não se limitava apenas em contar as suas historias e sim, ele dramatizava a cena e todos que o ouvia, ficavam encantados com o seu talento. Certa feita, numa roda de amigos, resolveu contar a história de Osvaldão.
Osvaldão era um senhor forte, tinha um ar de homem sério, de um homem durão e morava na época, na esquina de uma passagem que era uma mistura de rua e beco, e que dava acesso aos fundos da venda de Seu Gerson e era um grande negociador de carne de porco. Segundo Gau, Osvaldão não aceitava levar desaforo pra casa e num belo dia, conta Gau Pires, ele foi convidado a ser juiz numa partida de futebol que estava sendo realizada na comunidade do Federal (divisa entre Jaguaquara/Itiruçu) e no decorrer do jogo, houve uma entrada violenta dentro da área em um determinado jogador e o juiz que era Osvaldão, não marcou a falta e tão pouco o pênalti. Foi então que alguém gritou “juiz ladrão!”. Foi o suficiente para que Osvaldão tirasse sabe lá de onde, um canivete e falasse: “Ladrão é?! Aqui o ladrão!”, e deu uma canivetada na bola, acabando o jogo por completo.
Antes mesmo de terminar a história, ouviam-se demoradas gargalhadas e nos amigos pediam mais é consequentemente, iam surgindo outras histórias.
Por mais que fosse simples a história, na voz e nos gestos de Gau, tinha uma outra dimensão, isso sem falar na generosidade da sua alma. Servir era algo grandioso na pessoa de Gau Pires. Ele não se negava a quem quer que fosse, pois acreditava que ajudar é o mínimo para quem ganhou o dom da vida e esse dom, hoje conta as suas histórias em um outro mundo.
Hoje em cada esquina da cidade, no cotidiano de nossos dias, em nossas lembranças, é fácil ouvir a voz alegre do inesquecível amigo contador de histórias.
Por Joselito Fróes