Quatro estudantes que fizeram a redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) na Bahia, em 2023, tiveram nota mil. O Ministério da Educação (MEC) não divulgou os nomes dos candidatos, mas informou que nenhum deles estuda na rede pública. Este ano, foram 60 redações com nota mil em todo o país. O tema foi ‘Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil’. As notas já podem ser consultadas.
Um professor de português que participou do processo de correção das redações do Enem, e que por motivos contratuais não pode ser identificado, disse que, em geral, o desempenho dos candidatos foi melhor que no ano anterior. Ele contou que muitos estudantes trouxeram exemplos pessoais durante a escrita.
“O desempenho foi bastante satisfatório, principalmente pelo caráter temático. O fato de algumas pessoas vivenciarem essas situações, como meninas que assumem tarefas em casa e mulheres que trabalham fora ou são mãe solo, foi um ponto positivo que favoreceu algumas escritas. Existe um formato padronizado para a escrita, o relato somente não basta, mas ajuda no processo argumentativo”, afirmou.
Ele corrige as redações do Enem há quatro anos e contou que o uso do plural, da crase, da vírgula e a concordância verbal e nominal continuam sendo os erros mais comuns do ponto de vista gramatical, com desempenho abaixo do esperado.
“Essa é a competência 1 que tem um peso muito grande na avaliação. Além disso, o Enem exige que o candidato traga um repertório pertinente e produtivo, e que dialogue com a proposta do exame. Esse ano, muitos candidatos usaram informações genéricas que não dialogavam com a proposta do Enem e isso atrapalhou o processo argumentativo”, explicou.
Apenas 42,6% dos estudantes da rede pública na Bahia fizeram o Enem em 2023. O estado tem 129 mil matriculados no último ano do ensino médio, 72 mil se inscreveram e somente 55 mil compareceram para fazer as provas. Davi Conceição, 17 anos, é aluno da rede pública e vai tentar uma vaga para Engenharia.
“A redação foi um desafio, porque é um assunto que faz parte do nosso dia a dia, mas que geralmente não está nos livros. Lembro de ter discutido esse assunto na sala de aula apenas uma vez. Moro em uma casa com muitas mulheres, sempre vi o esforço de minha mãe e de minhas tias, e acredito que isso pode ter me ajudado”, disse.
Foram 60 redações nota mil, e os baianos ficaram atrás de São Paulo (7 notas máximas), Rio de Janeiro (7), Rio Grande do Norte (6), Rio Grande do Sul (6) e Piauí (6). Quatro estudantes da rede pública conseguiram a nota máxima no Espírito Santo, no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Norte e no Tocantins. A estudante Denise Silva, 17 anos, está otimista.
“Acredito que fiz uma boa redação. Revisei a parte gramatical até a noite anterior e o tema da redação foi muito pertinente. É um problema que faz parte da vida de muitas gerações, mas que historicamente escolhemos não ver”, disse.
Assim como na Bahia, nos estado do Ceará e de Goiás quatro estudantes conseguiram a nota mil. Os resultados já podem ser consultados a partir desta terça-feira (16), no portal do Enem, na página do Participante. O Ministério da Educação (MEC) divulgou, nesta terça, um balanço do exame.
Apuração
A baixa adesão dos estudantes concluintes do ensino médio ao principal processo seletivo universitário do país acendeu o alerta do MEC. O ministro Camilo Santana lembrou que a inscrição é gratuita, e levantou hipóteses para a desistência dos estudantes, como a distância do local de prova, desestímulo com a preparação e falta de informação.
Camilo Santana disse que a pasta vai investigar o motivo de menos da metade dos estudantes aptos terem feito a prova, o resultado da pesquisa será divulgado em março, e prometeu fortalecer a campanha nacional do Enem este ano.
“É importante uma mobilização em relação a isso. Existe uma discrepância muito grande entre os estados, tem uns com 80% de participação e outros com 40%, ou seja, o dobro. Precisamos identificar o motivo para que o jovem que está concluindo o ensino médio não participar do Enem, e a razão daqueles que se inscreveram e que não compareceram”, afirmou o ministro.
Na Bahia, cerca de 146 mil estudantes concluíram o ensino médio em escolas públicas e privadas, no ano passado, 87 mil deles se inscreveram para fazer o Enem e 68,9 mil de fato compareceram, ou seja, 21% dos inscritos não fizeram as provas. O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Manuel Palácios, comentou sobre a investigação.
“Essa será uma pesquisa original. Vamos elaborar um questionário e encaminhar para todos os inscritos e vamos produzir resultados que esperamos apresentar até o final de março. Mesmo os vestibulares específicos que algumas instituições organizam não são substitutivos do Enem. O caminho mais imediato e fácil de acesso é o Enem”, disse.
Em todo o Brasil, apenas 46,7% dos estudantes no último ano do ensino médio fizeram o Enem. O número de matrículas no ensino médio cresceu 10% no país em relação a 2022 e as inscrições no Enem foram 9% maior na mesma comparação. O balanço do exame foi apresentado em Brasília (DF), nesta terça-feira (16). A entrevista coletiva foi transmitida ao vivo pelas redes sociais.
Procurada para comentar os dados, a Secretaria Estadual da Educação (SEC) ainda não se manifestou.
Confira os estados com nota mil na redação:
⦁ São Paulo (7)
⦁ Rio de Janeiro (7)
⦁ Rio Grande do Norte (6)
⦁ Rio Grande do Sul (6)
⦁ Piauí (6)
⦁ Bahia (4)
⦁ Ceará (4)
⦁ Goiás (4)
⦁ Pará (3)
⦁ Sergipe (3)
Reprodução do Correio*