Apesar de as pesquisas indicarem um eleitorado majoritariamente decidido, analistas indicam fatores às vésperas das eleições que podem mudar o cenário em 2 de outubro. Um deles é a abstenção, facilitada neste ano pela possibilidade de justificativa por aplicativo. Há, ainda, o voto útil dos que defendem encerrar a disputa no primeiro turno, o chamado “voto envergonhado” – não revelado nas pesquisas – e o porcentual de indecisos.
Baixo nos levantamentos estimulados (quando se informam os nomes dos candidatos), o índice de indecisos varia de 11% a 28% nos levantamentos espontâneos, aqueles em que os nomes dos candidatos não são apresentados.
Segundo o cientista político e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Fernando Abrucio, a taxa de indecisos pode ser maior do que aparece nas pesquisas. “Alguns querem esperar até o fim para se informar mais e tomar uma decisão, muitos podem ir para Simone Tebet ou Ciro Gomes , outros querem decidir se vão votar no Lula, como voto útil”, disse. “O voto é uma combinação de fatores sociais e econômicos, além de valores. Bolsonaro estacionou porque a economia está melhorando, mas o bem-estar social não está.”
A abstenção também influencia. Ela cresceu de 16%, em 2006, para 20,3% em 2018. Foram quase 30 milhões de pessoas que deixaram de votar na última eleição. Para analistas, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode ser o mais prejudicado com eventual alta de faltantes, mas ela também afetaria a votação de Jair Bolsonaro (PL), que tenta a reeleição.
De acordo com Abrucio, as classes D e E tendem a votar menos (maioria declara voto em Lula), assim como os idosos (maioria declara voto em Bolsonaro). Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que, em 2018, o grupo com maior índice de abstenção foi o de analfabetos com mais de 60 anos (superior a 50%). Por outro lado, houve neste ano recorde de jovens abaixo dos 18 anos que tiraram título de eleitor – 2 milhões
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O cientista político e presidente do conselho do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), Antonio Lavareda, apontou o que chama de “voto errático”, decidido nos últimos dias, como mais um fator de surpresa. “Tem aquele eleitor que vê a pesquisa da véspera e vota em quem está liderando. E o que decide votar no azarão, que não tem nenhuma chance de vencer.” Em 2018, 10% dos votos que as pesquisas indicavam ir para outros candidatos migraram para Fernando Haddad (PT) ou Bolsonaro no último dia da disputa presidencial. Por Renata Cafardo e Gustavo Queiroz/Estadão.