O mês de abril foi um marco das investigações criminais contra a classe política brasileira, tanto pela prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como pela chegada do senador Aécio Neves (PSDB-MG) ao banco dos réus. Para ambos os polos que dominaram o espectro político desde a redemocratização, houve um ônus enorme para a reputação dos partidos. Nesta terça-feira do mês, a Operação Lava-Jato voltou às ruas. O senador Ciro Nogueira (PI), presidente nacional do PP, e o deputado Eduardo da Fonte (PE), também do partido, foram alvos de busca e apreensão em seus gabinetes no Congresso e endereços pessoais. O ex-deputado Márcio Junqueira (PP-RR) foi preso preventivamente por envolvimento no esquema.
Os mandados foram autorizados pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, em razão de suspeita da Procuradoria-Geral da República de que os congressistas tentaram comprar o silêncio de um ex-assessor de Nogueira que passou a cooperar com as investigações. “O objetivo das medidas cautelares é reunir mais provas de que os dois políticos tentavam comprar o silêncio de um ex-assessor que tem colaborado com as investigações”, diz nota da PGR.
“Alvo do mandado de prisão, o ex-parlamentar é apontado como o intermediário do esquema, que inclui o pagamento de despesas pessoais, ameaças e até proposta para a mudança do teor de depoimento que incriminaria os alvos da operação de hoje.”
O PP enfrenta situação diferente de PT e PSDB. A legenda de Lula amarga desgaste constante desde o início da operação, culminando na perda de 60% de suas prefeituras na eleição de 2016 e o PSDB começa a sentir os efeitos do envolvimento de Aécio nos esquemas, equilibrando-se para se manter como referência na centro-direita em outubro — no caminho há também acusações de recebimento de propina por outros caciques do partido, como o senador José Serra (SP), e a prisão do antigo operador Paulo Preto, ex-diretor da Dersa e centro do que pode ser uma delação explosiva para o tucanato.
O partido de Ciro Nogueira, por outro lado, vem crescendo. Na janela partidária entre os meses de março e abril, período de 30 dias em que congressistas puderam trocar de legenda sem risco de perda de mandato, o PP ganhou sete deputados federais.
Os progressistas são agora a segunda maior bancada da Câmara dos Deputados, com 53 parlamentares. O partido fica atrás apenas do PT, que terminou a janela com 60 nomes.
Mesmo com a liderança entre as bancadas, são nove petistas a menos que na eleição, em 2014. O MDB elegeu 65 deputados e hoje tem 50. Mesmo o PSDB, que começou a sofrer tardiamente os efeitos da Operação Lava-Jato e surfou na onda antipetista durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT), registra redução na janela partidária: foram 54 eleitos e tem são 48 deputados.
“Além de não ter uma figura central no Executivo, o PP é um partido que se beneficia da perda de protagonismo de PSDB e MDB na centro-direita”, diz o analista político Silvio Cascione, da consultoria Eurasia.
Recordista de investigações
Dentre os três partidos que figuram na Lava-Jato desde o início dos escândalos, o PP é o único que cresceu. Nas eleições municipais, o partido ganhou 20 prefeituras, passando de 476 para 496 cidades.
O partido de Nogueira elegeu 38 deputados em 2014, registrando nada menos que 39% de crescimento enquanto a operação engole os demais. Destes, nada menos que 21 deputados são investigados em casos de corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.
O próprio Ciro Nogueira tem sete inquéritos registrados no Supremo Tribunal Federal e chegou a ser gravado, tal como Aécio e Temer, por Joesley Batista no início do ano passado para um anexo da delação dos executivos da J&F.
Segundo Joesley e Ricardo Saud, delator e ex-dirigente da holding, foi entregue uma mala de 500.000 reais a Ciro Nogueira, parte de 8 milhões de reais acertados em propina no início de 2017. As fitas foram perdidas por Joesley, mas a PGR pediu abertura de inquérito para averiguar o caso.
O PP é o partido com maior número de investigados na Lava-Jato. Em virtude disso, em março de 2017 foi ajuizada a primeira ação da força-tarefa da operação em Curitiba contra um partido político.
Foram pedidos 2,3 bilhões de reais em reparações, além de ações por improbidade administrativa contra os ex-deputados Pedro Corrêa (PE), Pedro Henry (MT), João Pizzolatti (SC) e Mário Negromonte (BA), os atuais Nelson Meurer (PR), Mário Negromonte Júnior (BA), Arthur Lira (AL), Otávio Germano (RS), Luiz Fernando Faria (MG) e Roberto Britto (BA), além do ex-assessor de José Janene, João Carlos Genu.
A riqueza de detalhes que a Lava-Jato tem contra o partido está na origem da operação. O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa era o nome que defendia os interesses do partido na empresa, distribuindo contratos às empreiteiras envolvidas no esquema.
O operador de propinas entre empresas e membros do partido era Alberto Youssef. A dupla foi o primeiro par de delatores a colaborar com o Ministério Público Federal em Curitiba.
O poder de influência do PP é mantido por pautas conservadoras e fisiologismo político. Há também uma pitada de puxadores de voto. Além de Jair Bolsonaro, que foi da legenda por anos, o plantel tem como maior ícone o deputado federal (hoje, afastado por condenação por corrupção) Paulo Maluf (SP).
O ex-prefeito e governador de São Paulo foi eleito em 2014 com 250.281 votos, oitavo lugar no ranking nacional de mais votados.
Com puxadores de voto e bancada robusta, o partido fez parte de todas as bases aliadas de governos vigentes, seja de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Lula, Dilma Rousseff e Michel Temer.
É justamente por agir nas sombras, longe de uma figura central do poder Executivo que o PP sofre menos impacto na percepção do eleitor, mesmo estando intimamente ligado ao petrolão e ao mensalão.
No pragmatismo da política, a visão embaçada do eleitor sobre a moral do partido e a falta de ambição de lançar um candidato à Presidência soa como música aos ouvidos dos mais pragmáticos. Com o fim do financiamento privado de campanha, um partido mais focado em eleger congressistas e com bancada forte na Câmara é atraente aos que buscam recursos eleitorais.
O PP deve contar com 142 milhões de reais de fundo partidário e bons minutos de propaganda eleitoral no rádio e TV — a quantidade exata será divulgada nos próximos meses pelo Tribunal Superior Eleitoral.
É tudo o que políticos de carreira buscam para tentar uma vaga em Brasília nas eleições de outubro. A Lava-Jato, para eles, pouco importa. A dúvida é se os eleitores vão encarar da mesma forma.