Sob a pressão dos aumentos na energia elétrica, gasolina, passagem aérea e gás de botijão, a inflação oficial no País acelerou para 1,16% em setembro, a taxa mais elevada para o mês desde 1994, ano de implantação do Plano Real, segundo os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgados nesta sexta-feira, 8, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Como consequência, a taxa acumulada pelo IPCA em 12 meses rompeu o patamar de dois dígitos, subindo a 10,25% em setembro, ante uma meta de 3,75% perseguida pelo Banco Central neste ano, com margem de tolerância de 1,5 ponto (2,25% a 5,25%). O resultado em 12 meses é o maior desde fevereiro de 2016.
O porcentual de itens investigados com aumentos de preços desceu de 72% em agosto para 65% em setembro. “A inflação de setembro traz boa novidade, depois de tantas surpresas negativas, mas o número ainda é muito elevado. O cenário é preocupante, e não só por commodities. É uma inflação que está se espalhando, com piora nas expectativas para 2022”, avaliou o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale, que manteve as projeções de 9,00% para o IPCA em 2021 e de 4,70% para 2022.
Para o economista, é praticamente impossível atingir o centro da meta da inflação no próximo ano, fixado em 3,50%. Diante das incertezas políticas, acrescenta, também será difícil alcançar o objetivo em 2023 (3,25%).
“Tem energia, combustíveis e os efeitos da inflação americana e da instabilidade chinesa, que pressionam nossa taxa de câmbio. Não há cenário tranquilizador e, nessa equação, não consigo ver uma inflação mais baixa”, alertou Vale.
Os itens monitorados pelo governo têm pressionado os aumentos de preços na economia, apontou Pedro Kislanov, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE. “Tem uma série de fatores que estão por trás dessa inflação. Ela tem sido verificada, principalmente, sobre itens monitorados: energia, gasolina e gás de botijão. E também tem contribuição importante dos alimentícios, especialmente proteínas”, afirmou Kislanov.
Para o pesquisador do IBGE, a demanda tem se recuperado aos poucos, diante da reabertura da economia, o que pode influenciar resultados futuros do IPCA. No momento atual, o cenário conta com a pressão de uma inflação de custos operacionais e elevação de preço de insumos, além da alta do dólar, que também influencia itens da cesta de consumo, como eletrônicos e gasolina.
“O dólar elevado muitas vezes também acaba estimulando exportações, reduz a oferta interna e acaba aumentando preços”, lembrou Kislanov.
No mês de setembro, os aumentos de preços nos grupos habitação, transportes e alimentação responderam por cerca de 86% do IPCA. Entre os itens de maior impacto, os que mais contribuíram para a inflação de setembro foram energia elétrica (0,31 ponto porcentual), gasolina (0,14 ponto porcentual), passagem aérea (0,10 ponto porcentual), gás de botijão (0,05 ponto porcentual) e automóvel novo (0,05 ponto porcentual).
Dentro do índice, a inflação de serviços – usada como termômetro de pressões de demanda sobre a inflação – passou de alta de 0,39% em agosto para 0,64% em setembro. A inflação de itens monitorados pelo governo saiu de 0,95% em agosto para 1,93% em setembro.
“Os serviços já tiveram variação positiva, o que mostra alguma recuperação, nesse contexto de melhora da pandemia, avanço da vacinação, aumento da mobilidade urbana. No entanto, o acumulado está abaixo do IPCA. O setor de serviços ainda está deprimido. Ele ainda está em processo de recuperação. Mas pode contribuir para uma eventual aceleração (nos preços) tanto essa melhora da pandemia quanto uma questão de custos do próprio setor, como a alta da gasolina, da energia elétrica, com a melhora do cenário, melhora da economia. Mas isso também tudo depende da recomposição salarial, da melhora do mercado de trabalho. As pessoas dependem de renda para o consumo de serviços”, observou Kislanov.
A inflação de serviços acumulada em 12 meses saiu de 3,93% em agosto para 4,41% em setembro. A inflação de monitorados em 12 meses passou de 13,68% em agosto para 15,72% em setembro, o maior patamar desde janeiro de 2016, quando foi de 17,22%. “Os monitorados são os que mais têm impactado a inflação em 12 meses”, frisou Kislanov.
A gasolina subiu 39,60% nos 12 meses encerrados em setembro, enquanto o etanol aumentou 64,77%. A energia elétrica acumula um aumento de 28,82%. O gás de botijão aumentou 34,67% em 12 meses, mas vem subindo ininterruptamente há 16 meses, período em que acumulou uma alta de 39,64%.
As carnes ficaram 24,84% mais caras nos 12 meses encerrados em setembro, e as passagens aéreas subiram 56,81%.
A taxa de 10,25% acumulada pela inflação nos 12 meses terminados em setembro teve como principais contribuições os combustíveis (2,40 pontos porcentuais, sendo a gasolina responsável por 1,93 ponto porcentual individualmente), energia (1,25 ponto porcentual), carnes (0,67 ponto porcentual), etanol (0,39 ponto porcentual) e gás de botijão (0,38 ponto porcentual).
Os dados da inflação de setembro corroboram o “plano de voo” do Banco Central, com prováveis altas de 1 ponto porcentual na taxa básica de juros, a Selic, em outubro e em dezembro, para 8,25% ao ano, opinou o economista João Leal, da gestora de recursos Rio Bravo Investimentos. Ele prevê que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC encerre o ciclo de elevação dos juros na primeira reunião de 2022, quando subiria a taxa para 8,75% ao ano.
“É um nível razoável para cumprir o centro da meta em 2022 (3,50%). A partir daí, o BC começa a colocar 2023 mais na conta”, previu Leal.