O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), afirmou que os feridos na manifestação de sábado (29) contra o presidente Jair Bolsonaro vão ser indenizados pelo estado. Dois homens que não participavam do protesto foram atingidos por balas de borracha nos olhos. O protesto fez parte das manifestações de sábado pelo Brasil, pedindo a saída do presidente Bolsonaro, mais rapidez na campanha de vacinação, nas medidas de proteção à Covid e auxílio emergencial de R$ 600.
Os manifestantes se reuniram no Centro do Recife e foram acompanhados pela Polícia Militar. A passeata percorreu dois quilômetros. Chegou na ponte Duarte Coelho, era quase o fim do protesto e a dispersão seria do outro lado. O comando da Polícia Militar não esclareceu ainda o que motivou a ação do grupo de PMs que estava do outro lado da ponte. As imagens mostram que eles avançaram em direção aos manifestantes, atiraram balas de borracha e lançaram bombas de efeito moral.
Jonas Correia de França estava numa bicicleta e começou a filmar com o celular. Um dos policiais atirou a poucos metros de distância. Jonas, de 29 anos, foi atingido por uma bala de borracha no olho direito e se desesperou. A mulher de Jonas explicou que ele tinha saído do trabalho e voltava para casa depois de comprar carne.
“Ele não estava no protesto, ele foi no mercado São José quando largou, comprou a carne. Quando ele estava voltando pra casa, se deparou com esse protesto. Os médicos só deram 1%, porque 99% tá pra ele não enxergar, porque foi muito grave”, diz Daniella Barreto, esposa do Jonas. Outro homem também foi atingido no olho por uma bala de borracha. Quando as pessoas se aproximaram pra ajudar, a polícia atirou na direção delas. Mas uma manifestante conseguiu arrastar o ferido. Daniel Campelo, de 51 anos, foi atingido no olho esquerdo.
“Deixou meu pai lá, jogado. Como se meu pai fosse um lixo, tivesse fazendo algo de errado. Meu pai nem no protesto estava. E mesmo que estivesse, eles não poderiam fazer isso não. Ele perdeu o globo ocular”, diz Danielle Campelo, filha de Daniel.
Os dois permanecem internados no Hospital da Restauração. Os médicos já disseram que eles vão precisar de cirurgia, mas que é preciso esperar o inchaço diminuir.
Outras pessoas também ficaram feridas, como o advogado Roberto Rocha, atingido quatro vezes. Roberto, que é presidente da comissão de direito parlamentar da OAB, em Pernambuco, disse que tentou conversar com os policiais e não conseguiu.
“Consegui me aproximar de uma das viaturas, dialoguei com o policial, apresentei a minha OAB, me apresentei como advogado. Expliquei que eu e outros colegas estávamos tentando convencer a população a retroceder, para que acabasse o conflito sem maiores ferimentos. E a polícia simplesmente decidiu olvidar desse diálogo e começou novamente os disparos”, conta.
A Ordem dos Advogados do Brasil, em Pernambuco, afirmou em nota que vai exigir uma apuração e punição dos responsáveis.
Em nota, a corregedoria da secretaria de Defesa Social de Pernambuco disse que está investigando os fatos, ouvindo testemunhas e policiais e que quatro PMs e o comandante da operação foram afastados ainda no sábado.
Neste domingo, o governador Paulo Câmara (PSB) voltou a comentar a ação. Em nota, disse que vai dar assistência médica aos dois homens feridos no rosto, que vai iniciar o processo de indenização e que os dois tiveram lesões permanentes.
O sábado foi marcado por manifestações em todos os estados e no Distrito Federal contra o presidente Jair Bolsonaro. Os atos foram convocados por movimentos sociais e receberam o apoio de alguns partidos políticos e sindicatos de trabalhadores.
Em Brasília, carros ocuparam faixas da Esplanada e um grupo ficou concentrado no Museu da República, seguindo, depois, em direção ao Congresso Nacional.
No Rio, o protesto foi no Centro da cidade. Quase todas as pistas da Avenida Presidente Vargas ficaram fechadas. Apesar de muitas pessoas estarem usando máscaras, também houve aglomeração.
Em São Paulo, o protesto ocupou dez quarteirões da Avenida Paulista. Em alguns trechos, os manifestantes respeitaram o distanciamento social, mas na frente do MASP – o Museu de Arte de São Paulo – houve aglomeração. Os manifestantes, usando máscaras, pediram o impeachment do presidente Bolsonaro, mais vacina e também lembraram as vítimas da Covid. A avenida ficou fechada nos dois sentidos.