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Golpistas usam prefixo 0800 para roubar dados bancários na Bahia

É quase impossível encontrar pessoas que não receberam ligações ou mensagens suspeitas sobre supostas transações bancárias de números desconhecidos que não são mais do que tentativas de roubo por meio de operações telefônicas. O famoso golpe da falsa central de atendimento, também conhecido como golpe do 0800, apresenta uma variação a cada ano, mas sempre com o mesmo objetivo: roubar dados confidenciais de possíveis vítimas ou conseguir transferências via Pix.

Com métodos similares, apresentando pequenas distinções na abordagem, a nova onda de tentativas de roubo por meio de mensagens telefônicas consiste no seguinte: os criminosos enviam um SMS para os alvos, geralmente de números mais curtos, como 25500, com o conteúdo sobre supostas compras, transações, cobranças de dívidas ou atualizações de segurança da conta. No final da mensagem, os golpistas pedem para que a pessoa ligue para um número com o prefixo 0800 ou clique em um link duvidoso, que encaminha diretamente para uma chamada.

Durante a ligação, os golpistas tentam obter dados pessoais ou até mesmo um código de autenticação para realizar operações financeiras. Esse tipo de ação é uma técnica definida como engenharia social, utilizada por cibercriminosos para obtenção de informações confidenciais ao explorar o erro das próprias vítimas.

De acordo com o coordenador do Laboratório de Inteligência Cibernética da Polícia Civil (Ciberlab) da Bahia, Delmar Araújo Bittencourt, as abordagens dos criminosos trabalham com o impacto emocional dos alvos. “Todas as informações eles conseguem a partir da enganação da vítima. Eles enganam a vítima, conseguem retirar informações utilizando a falsa informação de que se trata de uma interação com o banco.”

Conforme o coordenador, os golpistas conseguem utilizar o prefixo 0800, comumente utilizado por várias organizações, por uma tática conhecida como maquiagem. O verdadeiro número é ocultado por meio de um link.

Um levantamento da plataforma tellows, base de dados que cadastra de diversos números do Brasil, identificou os principais contatos reportados como tentativas de golpe do 0800. Os números 08000500230, 08001110021 e 08001110021 lideram a lista dos últimos 30 dias, com relatos de mensagens sobre penhora de bens, Bradesco e cobranças, respectivamente.

Como se proteger  

A orientação básica é nunca passar informação confidencial por telefone, para quem quer que seja. “O banco não liga pedindo senha. Se alguém receber a mensagem pedindo para digitar PIN de SMS recebido, desconfie que é um golpe e desligue imediatamente”, explicou Bittencourt.

Para os clientes que querem ligar para o banco, o coordenador orienta buscar o número da instituição no verso do próprio cartão, “jamais em números recebidos por mensagens de Whatsapp ou SMS”.

Apesar dos golpistas realizarem transações para diversas contas, com o objetivo de não deixar rastros, há uma possibilidade de reduzir prejuízos causados às vitimas. Passíveis de rastreabilidade, as contas de destino final da quantia podem ser identificadas por meio da autoridade policial. Em casos de envio de Pix, o banco que recebeu o valor pode comunicar ao proprietário da conta que aquele valor se trata de uma fraude e deve ser devolvido, sob pena de bloqueio.

De acordo com o Bittencourt, as vítimas não podem deixar de registrar a ocorrência – por meio da delegacia virtual ou unidade mais próxima – e manter o banco ciente do ocorrido. Depois de cumprir tais protocolos, a polícia oficia os bancos e inicia a procura pelo dinheiro e pelos infratores.

Tentativas do golpe 

No mês de maio, o estudante Johnson Bruno, 22 anos, recebeu duas mensagens suspeitas do número 25500, com as características do golpe do 0800. Atento, ele identificou imediatamente que estava sendo alvo de uma tentativa de roubo.

“Eu faço pouquíssimas operações bancárias e todas essas operações são rastreáveis pelo aplicativo. Então, não tem como o banco me mandar mensagem, sendo que fiz [as transferências] pelo aplicativo deles, não tem um motivo para reforçarem isso. Todas as mensagens que eles precisam mandar, mandam pelo aplicativo, explicou.

Bruno ressalta que só ligou para o banco uma única vez, por meio do contato do seu próprio gerente, após receber uma mensagem suspeita sobre uma operação no banco Itaú. “Eles [golpistas] já me ligaram uma vez, para saber se eu estava comprando uma casa, eu sabia que era golpe, nenhum banco me liga.”

A jornalista e escritora Raíssa Ramos, 23 anos, também recebe esse tipo de SMS constantemente. O conteúdo das mensagens segue um padrão de sinalizar supostas compras acima de R$ 2.500. A jovem identifica a tentativa de golpe porque não possui conta nas instituições citadas nos textos. “Não tenho contas nesses bancos, por ai já tiro que não é comigo, que é golpe, que não fiz compra nenhuma. Como sei que é golpe, não faço nada, deixo [a mensagem] lá.”

Anatel 

Procurada, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) encaminhou uma nota informando que “Há uma força tarefa entre instituições financeiras e empresas de telecomunicações para identificação desses casos e bloqueio. Também são abertos os boletins de ocorrência para a devida apuração das autoridades de segurança.”