Em época de aumento dos casos de gripe e de pandemia de Covid-19, a doença provocada pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2), nossa leitora Maria do Carmo Fernandes pergunta: “Afinal, dá para pegar se infectar com os dois vírus ao mesmo tempo?”
É possível, sim, Maria. “Ainda estamos conhecendo o Sars-CoV-2, mas temos bem documentado na literatura que infecções de vírus respiratórios são capazes de ocorrer simultaneamente”, comenta Ivan França, infectologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. Por exemplo: evidências preliminares de um estudo conduzido pela Universidade Stanford, nos Estados Unidos, mostram que uma a cada cinco pessoas com Covid-19 pode estar contaminada com outros agentes infecciosos.
O trabalho analisou 562 indivíduos e, dos 49 que testaram positivo para o novo coronavírus, 22% também apresentavam outros vírus respiratórios, principalmente rinovírus, responsável por resfriados, e enterovírus, causador de pneumonias e outras doenças.
Até agora, a coinfecção com o influenza parece mais rara, mas não deixa de preocupar. “Esse ano, os surtos de gripe aconteceram mais cedo que o previsto e ainda aumentarão durante outono e inverno”, alerta o pneumologista Bruno Baldi, da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).
Apesar de não ser muito comum, a combinação existe e precisa ser pesquisada, pois existe tratamento para o influenza. Sem falar que ele poderia agravar a Covid-19 caso passe despercebido.
Coinfecção de coronavírus e gripe gera sintomas mais graves?
Teoricamente, sim. “Teríamos dois vírus agredindo o organismo e, juntos, atacando os pulmões, o que aumentaria a agressividade de ambos”, destaca Baldi. “Mas essa é uma hipótese a ser confirmada em estudos”, complementa o médico. Suspeita-se ainda de um prejuízo nas defesas naturais do organismo. “Podemos dizer que um reduz a imunidade para o outro”, propõe Raquel Muarrek, infectologista da Rede D’Or.
Entretanto, uma pesquisa chinesa avaliou 115 pessoas com Covid-19, entre as quais cinco também estavam com influenza, e concluiu que esse subgrupo não parecia ter sintomas mais severos nem um prognóstico pior. Todos os participantes foram tratados e curados sem necessidade de passagem pela UTI.
Vale ressaltar que a parcela de portadores dos dois vírus era pequena e eles receberam o tratamento específico para a gripe. Daí a importância de fazer o diagnóstico e a diferenciação com exames.
Como diferenciar a gripe da Covid-19
Com base apenas nos sintomas, é difícil, uma vez que eles geralmente são parecidos. “O ideal é, já na triagem do pronto-socorro, realizar o exame para detectar as duas doenças”, explica França. O teste para coronavírus está disputado, enquanto o do influenza é mais comum e rápido.
“Do ponto de vista prático, a ausência de resultado para Covid-19 não muda a nossa conduta, porque não há tratamento específico para ela. Mas, se a pessoa estiver com gripe, já podemos iniciar o uso do remédio antiviral”, aponta Baldi.
Contudo, melhor do que tratar, é prevenir. Tanto para reduzir o risco de complicações quanto o número de pessoas nos hospitais, os médicos reforçam a importância de se vacinar contra a gripe.