Dinheiro de empresas envolvidas no esquema revelado pela Operação Lava Jato irrigou as campanhas de 12 dos 13 ministros nomeados pelo presidente em exercício, Michel Temer (PMDB), que se candidataram a algum cargo eletivo em 2014. Os recursos foram repassados de forma legal e declarados à Justiça Eleitoral.
Os que declararam doações de empresas que estão na mira da operação foram José Serra (Relações Exteriores), Henrique Eduardo Alves (Turismo), Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo), Blairo Maggi (Agricultura), Maurício Quintella (Transportes, Portos e Aviação), Raul Jungmann (Defesa), Mendonça Filho (Educação e Cultura), Leonardo Picciani (Esporte), Osmar Terra (Desenvolvimento Social e Agrário), Fernando Coelho Filho (Minas e Energia), Bruno Araújo (Cidades) e Ricardo Barros (Saúde).
A exceção é Ronaldo Nogueira (Trabalho). Quando concorreu a uma vaga de deputado federal pelo PTB do Rio Grande do Sul, o ministro recebeu R$ 393 mil em doações. Na sua prestação de contas não há registro de empresas alvo da Lava Jato.
Do grupo contemplado com doações, o maior beneficiado é Henrique Alves (PMDB). Na campanha para governador do Rio Grande do Norte, o então candidato declarou à Justiça Eleitoral ter recebido R$ 7,8 milhões das empresas investigadas por envolvimento no esquema de desvios na Petrobrás.
O valor representa 34% dos R$ 23 milhões declarados como doações na prestação de contas de 2014 do peemedebista. As doações foram feitas principalmente pela Odebrecht (R$ 5,5 milhões) e Queiroz Galvão (R$ 2,1 milhões). Galvão Engenharia (R$ 200 mil) e Andrade Gutierrez (R$ 100 mil) também doaram. Alves foi derrotado por Robinson Faria (PSD) no 2.º turno.
Geddel Vieira Lima declarou ter recebido R$ 7,1 milhões em doações eleitorais na campanha de 2014 ao Senado pelo PMDB da Bahia. Deste valor, R$ 2,3 milhões foram repassados por empresas que tiveram seus presidentes presos na Lava Jato – as empreiteiras Odebrecht (R$ 1,7 milhão) e UTC (R$ 75 mil) e o Banco BTG Pactual. Geddel não se elegeu.
Serra também ultrapassou a casa dos milhões em doações de empresas citadas na Lava Jato. Na campanha para o Senado, o tucano declarou ter recebido R$ 1,2 milhão da OAS e R$ 856 mil da Andrade Gutierrez. Serra declarou R$ 10 milhões em doações naquele ano.
Romero Jucá é alvo de investigações na Lava Jato; Alves é alvo de um pedido de investigação e Geddel foi citado na operação. O ministro do Turismo é suspeito de receber dinheiro do dono da OAS, Léo Pinheiro, em troca de favores no Legislativo e em tribunais. Em dezembro, sua casa foi alvo de busca e apreensão feita pela Polícia Federal.
Geddel aparece nas mensagens captadas pela PF com Léo Pinheiro em que tratam de interesses da OAS em órgãos do governo, entre eles a Caixa Econômica Federal – da qual o ministro era vice-presidente.
‘Turma’. Ao monitorar as mensagens de Pinheiro, investigadores da Lava Jato identificaram mensagens em que o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), menciona o pagamento de R$ 5 milhões a Temer e reclama de compromissos adiados com a “turma”, que incluiria Geddel e Alves. Os peemedebistas têm alegado que o valor se refere a doação oficial.
Os nomes de sete ministros de Temer – Serra, Alves, Raul Jungmann, Mendonça Filho, Osmar Terra, Bruno Araújo e Romero Jucá – aparecem na “superplanilha” da Odebrecht”. A lista contém a indicação de pagamentos feitos pela empreiteira a políticos.
O Estadão comparou os valores da planilha com as prestações de contas entregues à Justiça Eleitoral. Em vários casos os números da planilha são superiores aos declarados. A Lava Jato apura a suspeita de que doações declaradas de campanha tenham sido usadas como parte de pagamento de propina.
‘Legais’. Tanto os políticos quanto as empresas afirmam que as doações são legais. O jornal não conseguiu contato ontem com os ministros. Quando foram divulgadas as gravações da OAS, Henrique Alves refutou “qualquer ilação baseada em premissas equivocadas”. “Todas as doações para a campanha de Henrique Eduardo Alves foram legais”, informou.
Quando divulgada a “superplanilha”, Bruno Araújo disse que as citações a seu nome na lista são referentes às campanhas eleitorais de 2010 e 2012. Ele afirmou que o próprio juiz da Lava Jato, Sérgio Moro, ressaltou que a lista também traz doações eleitorais registradas. “É preciso separar o joio do trigo”, disse. Os demais ministros já afirmaram que as doações foram declaradas e aprovadas pela Justiça Eleitoral.
As informações são do Estadão*