A sabatina da presidenta afastada Dilma Rousseff já dura cerca de oito horas no Senado. Ao responder questionamentos dos senadores, Dilma diz que o processo de impeachment contra ela trata-se de um “golpe parlamentar” e que o pedido para sua saída da presidência não veio como manifestação das ruas.
Ao retomar o discurso, após intervalo de uma hora, a presidenta afastada reiterou que o processo é um golpe parlamentar. Ao responder questionamento do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), Dilma disse que nem todos os golpes são militares e usam a força para a tomada do poder.
“A literatura chama esses golpes de golpes parlamentares. Não há em toda a teoria política, em nenhum momento nada escrito que golpe de Estado é igual a golpe militar. Golpe de Estado é a substituição de um governo legítimo, sem razão, por quaisquer razões que aleguem, tendo em vista a substituição indevida”, afirmou.
Segundo Dilma, esse processo trará consequências “mais cedo ou mais tarde, cobra o seu preço”. “E muitas vezes ele leva a algumas restrições democráticas para impedir que os opositores protestem”, disse.
A presidenta já respondeu às perguntas de 30 senadores até o momento. Ao todo, há 51 senadores inscritos para questionar a presidenta, que depõe no Senado na condição de ré. A previsão é que o interrogatório ultrapasse as 23 horas.
Nas respostas, Dilma rebate a tese da acusação de que tenha praticado “estelionato eleitoral” em 2014, quando teria ocultado a situação das contas públicas durante a campanha eleitoral para conquistar votos.
A presidenta apresentou gráficos e dados para mostrar que a crise econômica mundial se deteriorou a partir de outubro de 2014, piorando ainda mais em janeiro de 2015. Segundo ela, o preço do petróleo caiu e o dólar subiu em relação a todas as moedas do mundo, o que provocou impacto também sobre o real.
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Segundo ela, não era possível o governo prever esse agravamento. “Eu não menti no processo eleitoral”, disse Dilma ao senador Magno Malta (PR-ES). “Ninguém sabia que nós teríamos uma queda de mais de US$ 40 [no barril de petróleo] neste processo que inicia em outubro, durante a eleição, mas que fica intenso no início de 2015. Nós não controlamos, nem nós nem ninguém controla, a política do Banco Central americano, nem do governo americano”, completou.
Ruas
Dilma também voltou a responsabilizar o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), pelo processo. Ao ouvir do líder do PSDB, senador Cássio Cunha Lima (PB) de que o processo nasceu nas ruas, e não na Câmara, a presidenta retrucou.
“Estou dizendo que é um golpe parlamentar. Eu não concordo que o processo veio das ruas de forma espontânea. Tratava-se de uma chantagem explícita do senhor Eduardo Cunha”, afirmou.
Durante todo o depoimento, a presidenta exemplificou situações em que seu governo teria sido sabotado na Câmara. Segundo ela, as chamadas pautas-bombas e a falta de funcionamento das comissões permanentes da Casa foram formas utilizadas para prejudicar o governo e propiciar o processo de impeachment.
“Deve ser também ressaltado que a busca de reequilíbrio fiscal, desde 2015, encontrou forte resistência na Câmara dos Deputados, à época presidida pelo Deputado Eduardo Cunha. Os projetos enviados pelo governo foram rejeitados, parcial ou integralmente; pautas-bombas foram apresentadas e algumas aprovadas. As comissões permanentes da Câmara, em 2016, só funcionaram a partir do dia 5 de maio, ou seja, uma semana antes da aceitação do processo de impeachment pela Comissão do Senado Federal”, disse.
Iolando Lourenço e Mariana Jungmann – Repórteres da Agência Brasil