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Cenário é ‘irreversível’ e Dilma vai sofrer impeachment, avaliam senadores baianos

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A primeira presidente mulher do Brasil deve ser a segunda a sofrer impeachment. Aliados de Dilma Rousseff (PT) bradam que o processo de afastamento contra ela é “golpe” e sustentam que ela não cometeu crime de responsabilidade, em uma luta para livrá-la da guilhotina política. Entretanto, apesar de ostentarem otimismo na possibilidade de reversão do impeachment, a própria base da petista não acredita que ela voltará à Presidência da República. A hipótese não é admitida publicamente, porém a avaliação é de que a presidente afastada anda em direção ao cadafalso e o caminho é sem volta.

A opinião é compartilhada por senadores baianos ouvidos pelo Bahia Notícias. Suplente de Walter Pinheiro, que se licenciou do mandato para assumir a Secretaria de Educação da Bahia, Roberto Muniz (PP) acredita que o cenário está desenhado e não muda: Dilma será definitivamente afastada. Depois da votação que, por 59 a 21, transformou a presidente afastada em ré no Senado, Muniz avalia que a petista não conseguirá escapar da cassação do mandato. “O grosso do placar está desenhado, está muito difícil a possibilidade de virada. A distância é muito grande e as condições políticas não sinalizam mudança. Política, como dizia Ulysses Guimarães, é como uma nuvem. Entretanto, não tem nuvem para ela [Dilma], nada que sinalize essas possibilidades [de reversão do impeachment] de forma mais clara”, diz Muniz, que deu voto favorável à Dilma na chamada sessão de pronúncia, espécie de prévia do julgamento final do processo.

Na opinião dele, o impeachment criou traumas, agravando a crise política e econômica no país, e deve ter desfecho rapidamente, para estancar a sangria e “instabilidades” que atingem o Brasil. “Os brasileiros uns estão perplexos e outros felizes, mas ávidos para que isso acabe logo. Há um desejo para que a gente vire a página”, declara. Apesar de ter votado a favor da petista, Muniz ainda não sabe se manterá o mesmo posicionamento no julgamento final. “Faço análises, há sempre especulações, mas me reservo o direito de caminhar analisando sempre, até o momento de ter que decidir”, responde.

Mais enfático que o progressista, o senador Otto Alencar (PSD), que também votou a favor da petista na pronúncia, avalia “que não há menor chance de retorno da presidente”. Para ele, o placar elástico da fase de pronúncia pode se dilatar ainda mais para o presidente interino Michel Temer (PMDB). “Desde que votei contra a admissibilidade, todos sabem que não há menor chance de retorno da presidente. Esse processo é muito nocivo para o país, porque essa situação insegura afugenta os investidores. O período que estou aqui em Brasília posso resumir que só se falou em instabilidade. A insegurança política, jurídica, administrativa pode ter sido relevante, positiva para grupos, setores, mas tem sido muito nociva para o Brasil. Foram meses de crise. Desde fevereiro até hoje só se fala em crise. É uma coisa infértil”, critica o parlamentar, que diz ainda que a base aliada de Dilma luta para fazê-la escapar do impeachment, mesmo sabendo ser uma “causa perdida”. O senador também fez críticas pesadas à falta de articulação política da petista. Na avaliação dele, Dilma fez um governo “ideocrático, só com membros do PT” e paga o preço de uma gestão distante do Congresso Nacional. “A presidente Dilma, na minha ótica, do ponto de vista das relações com o Congresso, se distanciou muito. Quando Wagner chegou [para ser ministro da Casa Civil], já havia um passivo muito grande, feridas muito grandes. Ele foi para o sacrifício e pagou um preço muito alto. Ainda tivemos os erros administrativos, a condução equivocada da economia, a corrupção desenfreada dentro da Petrobras. Isso maculou a imagem dela, apesar de não ter se beneficiado de nada”, avaliou. Ele ainda evitou dizer como se posicionaria no julgamento final, mas garantiu ser “independente” para votar. “Eu ainda estou pensando, avaliando. Só decidirei no momento do voto”, disse. As posições de Muniz e Otto, considerados próximos à petista, mostram como o pessimismo sobre o futuro político de Dilma se acentuou entre os aliados. Por outro lado, a presidente afastada parece ter ciência do cenário quase irreversível do impeachment e, sem ir para o corpo a corpo com os senadores para negociar votos a seu favor, demonstra estar mais preocupada em salvar a biografia do que o mandato. O Bahia Notícias tentou contato com a senadora Lídice da Mata (PSB), mas não obteve sucesso.

Fonte: Bahia Notícias