A pandemia popularizou as farmácias como local de testagem para a Covid-19, com o uso de testes rápidos, mas essa solução está disponível para outras doenças virais importantes, como a dengue. Apenas em Salvador, o número de casos da doença teve um aumento de 186% entre janeiro e a primeira quinzena de novembro deste ano, em comparação com o mesmo período de 2021. O percentual é mais que o triplo do acréscimo médio de 47% notificado na Bahia.
O infectologista Claudilson Bastos ressalta que é preciso estar atento ao fabricante desses testes disponibilizados em farmácias, mas considera que são uma alternativa válida quando há espera elevada para a realização de testes convencionais. Uma forma de verificar a confiabilidade do teste é confirmar a existência de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Em consulta realizada pela reportagem no site da Anvisa, na última semana de novembro, havia mais de trinta diferentes apresentações de testes em situação regular para comercialização, alguns com a opção de diagnóstico combinado de dengue, chikungunya e zika. Com oferta reduzida nas farmácias de Salvador, a testagem, nesses locais, é feita com uma gota de sangue retirada da ponta do dedo, mesmo procedimento das medições domésticas de glicemia.
Na rede pública
Mas os testes com resultado rápido também são disponibilizados na rede pública de Salvador. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), o tempo para obtenção do resultado varia conforme o fabricante, mas a espera média é de 30 minutos. Essa testagem está disponível nas unidades de urgência e emergência da rede municipal, ou seja, as UPAs e PAs (prontos atendimentos), garante a pasta. “Os testes sorológicos (Elisa, Testes Rápidos, etc.) devem ser realizados a partir do quinto dia dos primeiros sintomas, pois eles identificam anticorpos específicos para os arbovírus e o corpo humano necessita de um período em contato com o vírus para produzir estes anticorpos específicos. Para todos os tipos de teste, é necessária a coleta de sangue através de punção venosa”, esclarece a SMS.
Citando a Nota Técnica 19/2022 emitida em conjunto com a Diretoria de Vigilância Epidemiológica, e outros órgãos, a Secretaria da Saúde da Bahia informa a recomendação dos seguintes exames laboratoriais em casos suspeitos de dengue, chikungunya e zika: detecção de anticorpos IgM Elisa, NS1 reagente (baseado na detecção de antígenos) e o RT-PCR detectável (para identificação do vírus). Os dois últimos deverão ser realizados, no máximo, até o 5 º dia após início dos sintomas.
“O teste laboratorial é importante para a confirmação da suspeita clínica de infecção por arbovírus e para a identificação de qual o arbovírus responsável pela infecção, já que os sintomas das arboviroses são bastante parecidos. No caso da dengue, é importante também o isolamento viral para a identificação do sorotipo do vírus circulante em nossa comunidade, já que existem 4 sorotipos”, complementa a Secretaria Municipal. Bastos lembra que os sintomas gerais de dengue muitas vezes são inespecíficos, se assemelhando a várias outras viroses, a exemplo da covid-19. Entre eles estão dores musculares, febre e dores articulares, em alguns casos com presença esporádica de tosse.
A recepcionista Valéria Amaral, 36 anos, teve dengue há cerca de dois anos, mas só conseguiu a confirmação laboratorial quando os sintomas já tinham cessado. Em sua experiência, as dores por todo o corpo foram o aspecto mais marcante. Ao longo do seu tratamento, ela tomou medicamento antitérmico e fez o máximo de repouso possível, ficando alguns dias afastada do trabalho. “Não sei se eu pagaria um teste rápido para ter logo certeza de que era dengue. Pelo que o médico me disse, não tem remédio para dengue, então acho que não ia fazer muita diferença”, pondera Valéria.
Uma observação importante quanto à certeza do diagnóstico é a contraindicação de medicamentos com ácido salicílico, pois essa substância aumenta o risco de manifestações hemorrágicas. Para o infectologista, o diagnóstico precoce e preciso é importante para uma conduta mais direcionada à prevenção de complicações, em especial para pacientes mais vulneráveis, como as pessoas com comorbidades, idosos e crianças. “É necessário que a gente avalie o quanto antes, para poder acompanhar tanto a parte terapêutica, quanto a parte de exames laboratoriais”, defende Claudilson Bastos.
O monitoramento de possíveis sinais de complicações é o ganho central, já que o tratamento da dengue é de controle dos sintomas, além do reforço na hidratação. “O paciente pode apresentar alguns outros sintomas como rash cutâneo, ou seja, manchas no corpo, e algum sangramento, na gengiva, no nariz, tendo risco do que se chama dengue grave”, ressalta. Se a pessoa ficar muito desidratada ela pode desenvolver insuficiência renal. Com reprodução do conteúdo do Atarde.