Na mesma direção do Brasil, a Bahia elegeu um número de mulheres para prefeituras considerado pequeno para mandatos que iniciarão em 1º de janeiro de 2017. Também como em nível nacional, na Bahia a maior parte do eleitorado é composto por mulheres (é assim também na população total), mas poucas continuam tendo protagonismo na vida política, e consequentemente, nos rumos da sociedade. Levantamento feito pela Tribuna com base nos resultados oficiais das eleições deste ano (divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral) revela que foram eleitas 56 prefeitas no total das 417 cidades baianas. O número representa 13% do total de gestores (entre eleitos e reeleitos).
Primeira presidente mulher da União dos Municípios da Bahia (UPB) – entidade existe há 50 anos, a prefeita de Cardeal da Silva, Maria Quitéria, disse em entrevista à Tribuna que o conservadorismo da sociedade e a falta de vontade dos partidos políticos são as principais causas da baixa representatividade feminina no poder público. Quitéria atribui a situação ainda à crise econômica. “Nas eleições de 2016 vários fatores contribuíram para esse número: a crise, a dificuldade na gestão. O conservadorismo com certeza também. Ainda existe uma forte disputa com esse espaço de poder da mulher.
Às vezes até em casa. Muitos homens ainda têm dificuldade de lidar com a liderança da mulher dentro de sua própria casa. Melhorou um pouco. Conseguimos avançar um pouco. Mas essa dificuldade ainda é grande”, diz a presidente da União dos Municípios da Bahia. Maria Quitéria avalia que outros dois fatores que acabam enfraquecendo a candidatura de mulheres são a crise moral pela qual passa a política brasileira e o desinteresse dos próprios partidos em criar lideranças femininas.
“A mulher hoje também está muito resistente à política por causa dessa crise de classe que vivemos no Brasil. A mulher tem uma certa cautela. Ela faz parte do processo de construção de uma liderança política, ela é ativa na sociedade, mas tem dificuldade de virar uma liderança dentro de um partido. Os partidos ainda colocam as mulheres para compor a representação exigida por lei. Eles não colocam as mulheres para disputar de fato. Isso não dá a força que a mulher precisa numa disputa eleitoral”, diz Quitéria.
Do total das 56 prefeitas eleitas, apenas duas cidades são consideradas grandes em potencial econômico, em número de eleitores e em poder político. A deputada federal Moema Gramacho (PT) foi eleita para voltar ao comando de Lauro de Freitas (na Região Metropolitana de Salvador), cidade que ela governou por oito anos; e Cláudia Oliveira foi reeleita em Porto Seguro, no sul do estado.
Baixa representatividade se repete Brasil a fora
Ainda de acordo com o balanço do TSE, somente 12% das mulheres que se candidataram foram eleitas para os cargos de prefeito em todo país no primeiro turno do pleito municipal deste ano. Nesta eleição, o percentual de mulheres que disputaram cargos eletivos ultrapassou 30%.
De acordo com o tribunal, a primeira vez que isso ocorreu foi nas eleições municipais de 2012, quando partidos políticos e coligações atingiram o percentual de 32,57% de candidatas. Segundo o TSE, do total de candidatos na eleição,155.587 (31,60%) eram mulheres e 336.819 (68,40%), homens. Na disputa para os cargos de vereador em todo o país, a proporção foi ainda maior: 32,79% candidatas. Na disputa majoritária, para prefeito, 12,57% dos candidatos eram do sexo feminino.
A região que proporcionalmente elegeu mais mulheres nos cargos de prefeito foi o Nordeste, com um índice de 15,99%, seguido por Norte (14,80%) e Centro-Oeste (12,58%). As regiões Sul e Sudeste ficaram abaixo dos dez pontos percentuais, com 7,05% e 8,9% respectivamente. O Estado do Rio Grande do Norte foi o que elegeu mais mulheres, em 28,14% dos cargos. O menor percentual ficou com o Espírito Santo: 5,41% foram ocupadas por mulheres. *Informes da Tribuna da Bahia.