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Aquecimento global a +1,5°C, +2°C, ou mais, e suas consequências

Quase três vezes mais humanos ameaçados por ondas de calor extremas, e centenas de milhões a mais, pela escassez de água. Duas vezes mais insetos e três vezes mais plantas à beira da extinção. O Oceano Ártico sem gelo a cada dez anos, em vez de uma vez por século…

É apenas um “pequeno” meio grau, mas, entre um mundo com aquecimento limitado a +1,5°C em relação à era pré-industrial, objetivo do Acordo de Paris, e um planeta, a +2°C, o objetivo máximo, as diferenças são profundas e, muitas vezes, vitais, de acordo com especialistas.

E ficam ainda piores para além desse limiar.

O aquecimento já atingiu +1,1°C, e os atuais compromissos de redução de emissões estão levando o mundo a um aquecimento “catastrófico” de +2,7°C, alertou a ONU em meados de setembro.

A seguir, algumas das consequências esperadas, de acordo com um relatório especial do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) do final de 2018, em um mundo a +1,5°C, e com o último estudo sobre o estado da ciência do clima elaborado por estes especialistas em clima, de agosto de 2021.

Nesta ocasião, o IPCC disponibilizou um atlas on-line, o qual permite visualizar as várias repercussões previstas por região. O material está acessível em: https://interactive-atlas.ipcc.ch.

– Ondas de calor:

Ondas de calor extremas têm 4,1 vezes mais probabilidade de ocorrer a +1,5°C; 5,6 vezes, a +2°C; e 9,4 vezes mais, a +4°C.

Para picos de calor ainda mais intensos e raros, os números aumentam para 8,6 vezes mais probabilidade a +1,5°C; 13,9 vezes, a +2°C e… 39,2 vezes a +4°C!

Em termos de populações ameaçadas, 14% dos humanos estarão expostos pelo menos uma vez a cada cinco anos a +1,5°C, mas 37%, a +2°C.

– Tempestades:

O aquecimento influencia diretamente o regime de chuvas, que vão aumentar nas altas latitudes dos hemisférios norte e sul, nos trópicos e em muitas áreas de monções, mas vão se tornar escassas nas áreas subtropicais, ameaçadas por secas recorrentes.

No atual nível de aquecimento, a ocorrência de precipitação extrema é 1,3 vez mais provável do que na era pré-industrial; 1,5 vez, a +1,5°C, 1,7 vez, a +2ºC; e 2,7 vezes, a +4°C.

Quanto à intensidade dos episódios, o aumento é exponencial: 6,7% mais úmido hoje; 10,5% mais, a +1,5°C; 14%, a +2°C; e 30%, a +4°C.

– Secas:

As regiões em causa têm o dobro da probabilidade de sofrer episódios de seca a +1,5°C; 2,4 vezes mais, a 2°C; e 4,1 vezes mais, a +4°C.

Limitar o aquecimento reduz o risco de escassez de água em até metade. Entre 184 e 270 milhões de pessoas escapariam, assim, de um agravamento de seu “estresse hídrico” em todo planeta, em um mundo a +1,5°C, em vez de +2°C.

A contenção das secas também limita os desastres induzidos, como incêndios florestais.

– Agricultura:

Em um mundo a +2ºC, de 7% a 10% das pastagens desaparecem, com fortes consequências econômicas e sociais. As produções agrícolas também sofrem. Nos trópicos, as colheitas de milho caem 3%, a +1,5°C, e 7%, a +2°C.

– Oceanos:

O nível do mar deverá subir em torno de 43 centímetros até 2100 em um mundo a +2°C (e até dois metros em 2300), mas 84 cm em um mundo a +3°C, ou +4°C.

Limitar o aumento a +1,5°C reduziria 10 centímetros, enquanto os especialistas dizem que mais de um bilhão de pessoas viverão em meados do século em áreas costeiras particularmente vulneráveis.

O Ártico está esquentando mais do que outras regiões. Um verão sem gelo neste oceano é esperado a cada 100 anos a +1,5°C, mas a cada dez anos, a +2°C.

– Biodiversidade:

Todas essas mudanças têm efeitos diretos sobre os seres vivos em todas as suas formas, com 7% dos ecossistemas sendo modificados a +1,5°C; e 13%, a +2°C. Resultado, 6% dos insetos, 8% das plantas e 4% dos vertebrados têm seus habitats reduzidos em 50% na primeira hipótese. Estes números sobem para 18% dos insetos, 16% das plantas e 8% dos vertebrados a +2°C. A +4°C, metade das espécies animais e vegetais estaria ameaçada.