Fora do poder, Bolsonaro tenta mudar tom de agressividade. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta quinta-feira (29) ter mudado e que não responde mais ao que chama de “provocações” da imprensa. A declaração foi dada no Rio de Janeiro, após ser questionado sobre seu comportamento recente em encontros com jornalistas, sem os mesmos ataques em série que marcaram sua conduta quando estava no mandato. “A gente muda, pessoal. Se você achar que você não pode se aperfeiçoar, está errado. Eu não respondo mais por provocação. Tá ok?”, disse Bolsonaro.
Alvo de julgamento do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que poderá torná-lo inelegível até 2030, Bolsonaro tem dado seguidas entrevistas nos últimos dias em um tom que contrasta com a hostilidade na época da Presidência, quando acumulou ataques ao trabalho da imprensa sob argumento de que era perseguido. Duas dessas entrevistas foram dadas à Folha: na última quinta (22), primeiro dia de julgamento da corte eleitoral, e após viagem a São Paulo no final de semana. Na manhã desta quinta, antes da formação de 3 a 1 no placar do TSE pela sua inelegibilidade, Bolsonaro conversou com jornalistas por mais de 20 minutos após desembarcar no aeroporto Santos Dumont, no centro do Rio, vindo em Brasília.
Na entrevista, disse ter “espontaneidade”. “Críticas, lógico. Falar palavrão, eu falo. Melhorei, falando bem menos agora. Fiquei até mais simpático, né? A gente vai mudando, pô. Vai se aperfeiçoando.” Em 2022, os ataques a jornalistas no Brasil cresceram 23% em 2022 na comparação com 2021, segundo levantamento divulgado em março pela Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo). A entidade identificou o envolvimento de membros da família Bolsonaro em 42% dos casos.
Na ação julgada no TSE e que pode torná-lo inelegível, Bolsonaro é acusado de ter cometido abuso de poder e uso indevido dos meios de comunicação em uma reunião com embaixadores em julho de 2022. Na ocasião, o então presidente repetiu mentiras e ataques sobre o processo eleitoral.
Ele voltou a negar nesta quinta participação em planos de golpe de Estado e, questionado sobre um eventual pedido de vista no julgamento no TSE, disse que “gostaria” que isso ocorresse.
“Não vou negar para você, porque dá mais tempo”, afirmou. “Acredito até o último segundo na isenção e num julgamento justo, sem revanchismo por parte do TSE”, declarou em outro momento.
Leonardo Vieceli, Folhapress