Itiruçu Online – Aqui Bahia Jornalismo de Qualidade e Responsabilidade Social

A exploração da miséria pelo marketing social e político tem sido escada para popularidades

O cidadão precisa aprender e nós da imprensa estamos ativos para educá-los. É nossa responsabilidade proteger os menos favorecidos contra a hipocrisia dos que tiram proveitos da ignorância do outro. Muitos ainda não sabem que para divulgar uma imagem por ONGs, Prefeituras, Governos e Empresas, é preciso que a pessoa exposta assine um termo de autorização para uso da imagem para marketing. Muitas pessoas são pagas para levantar elevar a popularidades de políticos sem o menor respeito as Leis e a proteção nas imagens dos cidadãos.

Com o crescimento da mídia digital o mundo vive a era dos elogios fakes, àqueles que só encontram em rede social. Os que percebem que sua popularidade perpassa pela aprovação de seus seguidores, explora o máximo possível suas redes.  O campo mais explorado que utiliza a miséria do outro para comover seguidores é o político.

Fotos ao lado de pessoal em vulnerabilidade social para mostrar que tal perfil é presente nesse meio social é o preferido do político. A exploração da miséria nos setores sociais dos municípios é outro ponto negativo. Geralmente, as pessoas expõem de todas as formas os beneficiados em programas sociais, como se a ação fosse algo tão grandioso a ponto de ridicularizar quem – por um momento de dificuldade oriundo da necessidade e gratidão- carece da ação por viver na extrema pobreza.

Usar da ignorância do outro mostra o perfil escroto e que, sobretudo, àquela pessoa dará qualquer coisa com alguém para alcançar seus objetivos. À Lei torna-se apenas um livro cheio de regras e vedações a ponto de ser ignorado.

O site trata desse assunto direcionando apenas ao perfil político? Claro, que não. Empresas privadas e de marketing conhecem o caminho que comove o internauta. Por isso é importante ficar atento as redes sociais de checagens. Há estudos que indicam marketing com falsas informações e que utilizam de robôs para dissemina-las entre os idosos, evangélicos e a depender do grau de escolaridade do perfil, o direcionamento é automático, pois sabem 90% irá acreditar, pois não conhecem do conhecimento de pesquisas para validar o trote na informação. Foi assim nas eleições dos EUA e na última elei9ção presidenciável no Brasil. A Fake New comoveu muita gente e alimentou o ódio de um candidato contra o outro.

 

A exploração da miséria pelo marketing social no Filme ‘Quanto Vale ou é Por Quilo?’

A analogia entre o regime escravagista e o marketing social pela classe dominante no Filme “Quanto Vale ou é Por Quilo?”, de Sérgio Bianchi

 

#PraCegoVer [FOTOGRAFIA]: No centro da imagem há uma mulher rodeada por crianças pobres. Ela está dando as mãos para duas delas e o fundo é composto por casas de periferia.

 

Quanto Vale ou é Por Quilo?” (Sérgio Bianchi, 2005), que possui caráter jornalístico, faz uso de documentos e fatos históricos para compor uma narrativa em que costura o Brasil colonial com o contemporâneo, denunciando os impactos que a escravidão gerou em nosso país e como se manifestam na atuação de entidades do Terceiro Setor.

O recorte principal é o princípio de exploração da miséria humana presente no marketing social das ONGs que constroem uma imagem de “salvadoras das classes mais desfavorecidas” através da exposição de suas condições, que em muitos casos possuem esquemas de lavagem de dinheiro, caixa dois, projetos falidos, uso de laranjas e outras formas de corrupção.

Bianchi faz um paralelo entre diversas práticas, como por exemplo a “troca de favores”. No filme, usa o registro de uma escrava (Odelair Rodrigues) que conseguiu comprar a própria alforria por meio de um acordo feito com uma mulher branca (Ana Lúcia Torre) que ele descreve (até com certo tom de ironia) como a sua amiga. A escrava trabalhava por anos e nunca conseguia juntar o dinheiro para pagar a sua alforria ao seu dono Senhor Caetano Pereira Cardoso. Então ela fez um acordo com esta sua amiga, que a compraria dele e em troca ela trabalharia durante um ano para devolver o valor com juros. No entanto, a escrava só conseguiu juntar o dinheiro em três anos e pagando juros muito maiores. E assim conseguiu comprar a sua tão desejada alforria.

O diretor traz essa situação para um contexto atual exemplificando com “personagens” que se tratam de duas amigas. Uma era dona (Ana Lúcia Torre) de uma ONG e a outra voluntária (Cláudia Mello). A voluntária precisava de dinheiro para pagar a festa de casamento do filho e a dona emprestou. Quando surgiu a necessidade de transferir alguém para fazer trabalhos em lugares mais longes, ela mandou a amiga argumentando que “fazia tanto por ela”. A amiga acabou mandando uma outra moça mais jovem, que era negra e estava precisando.

O filme também aborda as contradições presentes em situações do próprio sistema atual. Donos de ONGs beneficentes explorando funcionárias idosas e as fazendo de laranja dentro da própria empresa, aproveitando-se de sua situação de vulnerabilidade; computadores superfaturados enviados para escolas públicas através de doações; entre outras situações, que desmascaram a exploração disfarçada de solidariedade da classe dominante.

Bianchi faz outras analogias entre a escravidão e as relações contemporâneas como a do capitão do mato no regime escravagista, que capturava outros negros que eram escravos fugitivos em busca de prestígio social e condições de vida melhores com a relação “negro contra negro” de hoje, usando como o exemplo o matador de aluguel do filme.

Desta forma, por meio de analogias e relações com documentos históricos, Bianchi constrói um argumento apontando que a escravidão ainda prevalece nos dias de hoje, mas em diferentes moldes e escalas. Trabalhadores continuam a ser explorados, membros de uma mesma classe ainda são jogados uns contra os outros, corpos são reduzidos à máquinas e a miséria ainda é usada para gerar lucro.

O filme traça um importante panorama sobre as consequências da escravidão e como este sistema repercutiu na vida e realidade das pessoas negras até os dias de hoje, que ainda são parte da população mais explorada no Brasil.

 

Nathalia Barreto

Graduanda em Letras (FFLCH-USP) e bolsista do Projeto CineGRI Ciclo 2019-2020.