Nos últimos meses de 2023 o cenário educacional brasileiro tem sofrido constantes ataques da violência exacerbada que vem ocorrendo em nosso País. As incidências de homicídios nas escolas têm gerado algumas angústias nas famílias e profissionais de educação, mesmo naquelas que residem distantes dos grandes centros urbanos. Historicamente a escola que antes era vista como um espaço de proteção, valorização dos saberes e orientação para a vida, tornou-se alvo do medo da “morte”.
Estas ondas de ataques têm chamado a atenção de diversos pesquisadores, no tocante sobre quais fatores estão por trás destes episódios? Fatores como bullying, a exposição dos jovens as redes sociais em contato com diversos grupos extremistas que induzem a violência, a falta de orientações e socialização dos jovens e o devido acompanhamento familiar, são algumas das questões levantadas. Porém, há um fator subjetivo que têm passado despercebido como reação adversa a estes ataques.
As redes sociais têm sido tomadas por uma onda de compartilhamento dos pais e responsáveis que relatam a insegurança no espaço escolar diante de tais situações, da falta de segurança adequada, de equipamentos e monitoramento da escola e no entorno dela, bem como a ausência de políticas públicas de saúde metal.
A evasão escolar é uma situação que vem sendo combatida de forma ainda muito tímida em nosso País, nos faltam políticas públicas mais eficazes de monitoramento e acompanhamento dos órgãos competentes para a situação do abandono e evasão escolar. Tais situações sempre estiveram relacionadas à necessidade de subsistência das famílias em situação de vulnerabilidade social, onde muitas vezes os estudantes precisam trabalhar para ajudar na renda familiar ou a situações inerentes do próprio sujeito no processo educacional.
O que nos chama atenção aqui, é o fator camuflado. Será está mais uma questão para a evasão e abandono escolar? As ocorrências destes ataques ocasionarão gatilhos emocionais em profissionais de educação e estudantes gerando insegurança e uma onda de agravamento a saúde mental? Inúmeras situações podem ser provocadas diante de muitos ataques às escolas nos últimos meses.
O fatídico episódio de Realengo naquele 07 de abril de 2011 chocou a todo País, mas desde lá temos presenciado poucas medidas preventivas ou até mesmo inexistentes em algumas localidades para proteção e preservação da vida no setor educacional. A educação precisa ser vista pelas esferas governamentais a partir de um campo intersetorial, abrangendo setores como saúde, desenvolvimento social, esporte, cultura e lazer, pois ela é em larga escala uma palavra mais ampla que a escolarização, a educação acontece a todo tempo, dentro e fora dos espaços escolares.
Situações diversas expõe nossas crianças, jovens e adolescentes às mídias sociais e a influência de fatores positivos e/ou negativos do acesso a conteúdo midiáticos diversos na formação da personalidade e na identidade destes sujeitos que transitam entre estes espaços. Na outra ponta deste iceberg estão os profissionais de educação que estão submersos nos problemas de escolarização.
As fissuras da Pandemia do Covid-19 chegaram à escola em formas distintas, distorção idade-série, atrasos no desenvolvimento das habilidades psicomotoras, defasagens na aprendizagem e o agravamento da fome que afeta gravemente a escolarização. Em meio a todas estas problemáticas, os professores e estudantes hoje não temem mais apenas ao inimigo invisível, o vírus, mas ao ataque e a morte que poderá adentrar a escola de farda, portando livros, cadernos, armas de fogo ou arma branca, vitimizando aos que estão desde a entrada principal ou pulando o muro de proteção. Afinal quem os protegerá? Portanto, faz-se necessário que as provocações sejam fomentadas pelos profissionais de educação, pais e demais órgãos da sociedade civil a fim de tomadas de decisões conjuntas que venham sanar ou combater a onda de violência nas escolas. É preciso um plano diretor educacional pautado na realidade social brasileira.
A necroeducação [1]não pode persistir em forma de violência que afasta as crianças do espaço escolar pelo medo e insegurança, nossos professores não poderão continuar com a saúde física e mental comprometidas pelos problemas sociais que atravessam e persistem no espaço escolar. O medo da morte é real, a insegurança é real, as questões são intersetoriais. Continuaremos a mercê?
Sobre a autoria do artigo:
Evanilda Teles dos Santos Pedrosa
Mestra em Relações Étnicas e Contemporaneidade PPGREC/UESB
Especialista em Políticas Públicas da Educação
REFERÊNCIAS
HALL, Stuart. Da Diáspora: Identidade e Mediações Culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.
LODY, Raul. Cabelos de Axé: Identidade e Resistência. Rio de Janeiro: Editora SENAC Nacional, 2004.