A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) já tinha tudo pronto. Assim que acabasse a eleição presidencial, a entidade iniciaria uma campanha imaginada pelo presidente Ednaldo Rodrigues desde março deste ano, quando foi eleito: despolitizar a camisa da seleção. A versão oficial é que, às vésperas da Copa do Mundo, a confederação quer “celebrar a paixão” do povo brasileiro pela seleção. Mas a ideia de tentar afastar a camisa amarela da polarização política no país não é nova.
“Nossa mensagem é de incentivo. O futebol não vive sem o torcedor. E conectar as pessoas de todas as idades, lugares, cores, raças, ideologias e religiões ao futebol é o nosso propósito”, disse Rodrigues. Desde 2015, quando começaram os protestos contra o governo da presidente Dilma Rousseff (PT), a camisa da seleção passou a ser usada como símbolo da direita. Também é utilizada pelos partidários de Jair Bolsonaro (PL), derrotado nas eleições presidenciais no final do mês passado pelo petista Luiz Inácio Lula da Silva.
Nos protestos que se seguiram ao pleito, apoiadores de Bolsonaro podem ser vistos com uniforme da seleção. Oposicionistas passaram a se referir a ele como “a camisa da CBF”, não do Brasil. Na festa de partidários de Lula, em São Paulo, petistas gritavam que o amarelo da seleção era “nosso”, dando a conotação de que deveria ser de todos, não apenas de um espectro político.
A mensagem casa com o que pretende a CBF, ainda mais com a eleição terminando a quase 20 dias do início do Mundial. A estreia brasileira será no próximo dia 24, contra a Sérvia. Em parte por isso, houve desconforto com o apoio público de Neymar a Bolsonaro. Havia sido passada a mensagem de que os jogadores deveriam se abster de manifestações antes da eleição. Mas ninguém teve coragem de cobrar o principal jogador da equipe.
A ideia da confederação é que, em todas as oportunidades, dirigentes, jogadores e comissão técnica reforcem a mensagem de união. A consequência disso seria despolitizar o amarelo do uniforme e fazer com que ninguém se sinta constrangido em usá-lo e ser identificado como apoiador de Bolsonaro.
Minutos antes do anúncio dos 26 convocados, a CBF apresentou comercial que vinha sendo preparado pela Yeap Filmes nos últimos meses. Com sequência de imagens de gente com a camisa da seleção, a trilha sonora é a música “Ela me Faz tão Bem”, de Lulu Santos.
O vídeo, em versão de 30 segundos, passou a ser veiculado em emissoras de televisão. A preocupação da CBF é institucional, não comercial. A entidade ainda não conseguiu apresentar à Nike sua reivindicação a respeito do pagamento de royalties pela venda das camisas. Como não recebe nada, a alta ou baixa na comercialização dos uniformes não afeta o caixa da confederação.