Com a realização das convenções partidárias, que se iniciaram na última quarta-feira e se estendem até o dia 5, foi dada a largada para a campanha eleitoral. O desenho do tabuleiro eleitoral para as eleições presidenciais toma forma e confirma o que vinha se vislumbrando nos últimos meses: a polarização dominará o pleito. Bolsonaro e Lula consolidaram suas candidaturas com grandes coalizões e as outras legendas penam para obter apoios. o PT de Lula já avalizou a candidatura do ex-presidente, e os petistas também referendaram por unanimidade o ex-tucano Geraldo Alckmin, atualmente no PSB, para o posto de vice. A confirmação da chapa puro-sangue do PL, com o general Walter Braga Neto como vice na chapa de Jair Bolsonaro, será sacramentada neste domingo, 24.
Primeiro a ter o nome confirmado para a disputa, ainda na quarta-feira, 20, em Brasília, Ciro Gomes permanece estacionado em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto. Segue sem perspectivas de atrair outros partidos para seu entorno e sem definir seu vice. O ex-governador mantém o tom raivoso dos já conhecidos ataques a Lula e Bolsonaro. Durante a convenção, em que teve o nome avalizado sem muito entusiasmo, mas também sem contestações, discursou por quase uma hora e disse que “o lulismo pariu Bolsonaro” e que esquerda e direita são “cúmplices” numa “polarização vulgar, personalista e odienta”. Sobrou até para medalhões do MDB que já declararam apoio a Lula. “Aliciar um bando de ladrões do MDB, corruptos, velhos sócios dele, Eunício Oliveira, Renan Calheiros, Romero Jucá, Eduardo Braga e Edison Lobão, para tirar o direito de Simone Tebet se candidatar é puro fascismo”.
Convenção do PL teve ataque de adversários, que tentaram esvaziá-la reservando ingressos
Um dia depois foi a vez de o PT reunir a executiva nacional do partido em São Paulo para aprovar a chapa Lula-Alckmin. Foi uma reunião protocolar: o ex-presidente cumpria agendas em Recife, Pernambuco, e não participou. Em seguida, a dupla também foi chancelada pela federação formada por PT, PSB, PCdoB, PSOL, Solidariedade, Rede e PV. Os petistas aproveitam as dificuldades dos outros pré-candidatos e vão investir a partir de agora nos dissidentes de outras legendas. Na segunda, 18, o petista havia recebido em São Paulo senadores emedebistas de peso de nove estados. Entre eles, o líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (AM), e outros como Renan Calheiros (AL), Rose de Freitas (ES), Vital do Rego (PB) e Marcelo Castro (PI), além dos ex-senadores Edison Lobão (MA) e Eunício de Oliveira (CE). O grupo oficializou o apoio à candidatura lulista já no primeiro turno e trabalha para que o MDB desista de ter candidatura própria. Foi a esse encontro que Ciro se referiu quando utilizou o termo “ladrões” para designar alguns emedebistas.
As maiores dificuldades são justamente da emedebista. Simone Tebet, vista até recentemente como a maior esperança de uma terceira via, não conseguiu unificar seu próprio partido e vê a aliança com os tucanos derreter. A convenção do MDB que deve bater o martelo sobre a candidatura deve ser realizada virtualmente nesta quarta-feira, 27. Para a vice, o nome mais cotado ainda é o de Tasso Jereissati. Mas o senador tem sinalizado a aliados que pode desistir da corrida por causa de atritos regionais. Em São Paulo, o governador Rodrigo Garcia abrirá seu palanque também para Luciano Bivar (União Brasil). No Rio Grande do Sul, o MDB e o PSDB de Eduardo Leite não se entenderam. E ainda há a falta de apoio dentro do próprio MDB. A pedido do grupo que declarou apoio a Lula, o ex-presidente Michel Temer tentou adiar a convenção para 5 de agosto, prazo final estabelecido pela Justiça Eleitoral. Aliados de Temer sonham em viabilizar seu nome para a cabeça de chapa como um “pacificador” para o País, contra os extremismos e com habilidade de costurar apoios nos partidos. O presidente do MDB, Baleia Rossi, é contra. No Twitter, disse que “MDB, PSDB e Cidadania decidiram que suas convenções nacionais para homologar Simone Tebet como candidata à presidência serão no dia 27 de julho”.
O lançamento da candidatura Bolsonaro-Braga Netto promete reproduzir as controvérsias que cercam o atual presidente. Ele espera lotar o ginásio do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, para a convenção do PL, no domingo, 24. Ao todo, 50 mil ingressos para o megaevento foram disponibilizados na internet. Mas seus opositores, em um movimento coordenado, reservaram os ingressos mesmo sem a intenção de comparecer, articulando um boicote para esvaziá-la. Diante da manobra, o PL de Valdemar da Costa Neto decidiu autorizar a entrada sem ingresso no local. Até na convenção que vai homologar a candidatura de Bolsonaro, portanto, a chance de conflitos é muito grande.