Pesquisadores do Canadá descobriram que a perda de olfato e paladar em pacientes com Covid-19 pode durar até cinco meses após a infecção. Os dados preliminares foram divulgados nesta terça-feira (23). O trabalho completo será apresentado na reunião Anual da Academia Americana de Neurologia, em abril. As informações são do Correio Braziliense.
“Embora a covid-19 seja um problema de saúde novo, muitas pesquisas já mostraram que a maioria das pessoas infectadas perde o olfato e o paladar nos estágios iniciais da doença”, explica Johannes Frasnelli, pesquisador da Universidade de Quebec e um dos autores do estudo científico, por meio de comunicado.
No estudo, foram analisados 813 profissionais de saúde diagnosticados com Covid-19 confirmado pelo exame PCR. Os participantes tiveram de preencher questionário online e realizar um teste caseiro para analisar o desempenho do paladar e do olfato durante cinco meses. “Todos os analisados classificaram esses dois sentidos usando uma escala de 0 a 10, sendo que zero significava nenhum gosto ou cheiro e 10, fortes percepções”, detalham os autores do artigo.
Ao todo, 580 pessoas – que representam 71% do total – perderam o olfato no estágio inicial da doença. Desses, 297 (51%) não recuperaram o sentido após cinco meses. A “perda persistente” do olfato ocorreu em 134 (17%) pacientes.
Além disso, 527 participantes (64%) relataram perda de paladar no início da infecção. Cinco meses depois, 200 voluntários (38%) revelaram ainda não ter recuperado o sentido, enquanto 73 (9%) tiveram perda persistente.
“É pelas vias respiratórias que o patógeno consegue ter acesso ao nosso corpo, e isso faz com que ele se instale, primeiro, nas vias superiores, atingindo principalmente o bulbo olfatório. Essa ação inicial já provoca danos na região, o que atinge o olfato. A ausência do paladar também ocorre porque esses dois sentidos usam células sensoriais, e todas elas funcionam de uma forma interligada”, explica Luciano Lourenço, médico clínico geral e chefe da Emergência do Hospital Santa Lúcia, em Brasília.
O especialista brasileiro alerta que há estruturas cerebrais envolvidas no paladar e no olfato, o que levanta dúvidas sobre a possibilidade de outros efeitos do Sars-CoV-2 no sistema neural.
“Esse é um vírus muito inteligente, ele usa nossas células para atacar o nosso organismo, e isso faz com que tenha essa capacidade de gerar danos em outras áreas, além do sistema respiratório. A perda desses sentidos pode estar relacionada a alterações neurais provocadas pelo patógeno, mas ainda não temos certeza. Só vamos conseguir definir isso aos poucos, com mais pesquisas como essa, que vão nos ajudar a entender melhor qual o comportamento dessa enfermidade e suas consequências ao organismo”, analisa.