Dean-Charles Chapman tornou-se conhecido como Tommen em Game of Thrones. George MacKay foi um dos filhos de Viggo Mortensen em Capitão Fantástico. Ambos fazem agora Blake e Will em 1917, o épico de guerra de Sam Mendes (Beleza Americana, 007 – Operação Skyfall). No começo do mês, 1917 venceu os Globos de Ouro de melhor filme de drama, direção e fotografia. Foi também o grande vitorioso na premiação do Sindicato dos Produtores, o que o converte em favorito no Oscar, ao qual concorre em dez categorias.
“Quando fizemos a audição, sabíamos apenas que era um filme de guerra, mas não as particularidades da produção, que seria filmado num único plano contínuo. E só depois descobrimos que seria um projeto muito pessoal de Sam, que queria contar a história do avô dele durante a 1ª Grande Guerra”, disse Chapman.
“O que temos aqui é o horror da trincheira, recriado com todos os detalhes, e quando você está correndo no campo de batalha, com fumaça, explosões e estilhaços, e a cena se estende, e você não ouve nunca o ‘Corta!’, a coisa fica muito real e assustadora”, completa MacKay.
Começa com um soldado descansando, à sombra de uma árvore. O repouso do guerreiro. É chamado para uma missão. Terão de atravessar a guerra para levar uma mensagem, lá do outro lado. O caminho é permeado de perigo. “É um filme sobre o tempo”, define MacKay, “E o fato de ter sido filmado num plano só reforça essa sensação.
Recentemente, Steven Spielberg filmou as trincheiras em Cavalo de Guerra, criando cenas poderosas como a da corrida do animal por aquela espécie de corredor sem fim, e a outra em que soldados inimigos se unem no esforço de libertar o cavalo preso no arame farpado. Em 1957, Stanley Kubrick fez seu clássico Glória Feita de Sangue, e são dois filmes sobre a 1ª Guerra. Sam Mendes mostrou-os aos seus atores, discutiu-os com eles?
“Tivemos uma extensa preparação e ela envolveu muita leitura, muita conversa, mas Sam nos proibia de ver clássicos de guerra porque queria criar sua visão”, conta Chapman. Cada cena, mesmo a mais simples, envolve sempre uma coreografia entre os atores e a câmera, e sempre em externas, seja um campo aberto, uma correnteza de rio, uma floresta ou as ruínas provocadas pelo bombardeio. “A primeira semana foi inesquecível. A gente caminhava durante horas no meio do nada, apenas George, Sam e eu, com as cópias do roteiro na mão, dizendo as frases e ouvindo do diretor o que ele pretendia fazer, e esperava que fizéssemos”, explica.
“Devido à coreografia, nós e a câmera sempre em movimento, mesmo em cenas de puro diálogo, repetíamos cem vezes para que o tempo e o espaço fossem perfeitamente definidos e mensurados. Nada poderia dar errado, porque senão todo o esforço estaria perdido”, completa MacKay.
Não se trata de um plano contínuo de mais de duas horas. Foram vários planos-sequência compondo esse movimento contínuo. “Poderíamos falar sobre a questão da câmera, mas o importante é tentar passar o que foram esses seis meses para a gente. Estávamos ali, no meio do nada, e aí começaram a cavar as trincheiras, passamos a ensaiar com uniformes, com as armas, vieram os figurantes, as explosões e, finalmente, a câmera. E, de repente, estávamos no meio do que parecia uma guerra de verdade”, diz.
O filme fecha um ciclo, mas, para evitar o spoiler, é melhor não dizer como termina. Um desafio físico portentoso. E o emocional? “Pois é, mas de atores é isso que se espera, não? A experiência com Sam foi demais”, concluem. *Correio24horas