Goleador da Série B em 2007 e vice-artilheiro da Série A em 2009, folclórico centroavante ex-Flamengo faz cursos para se tornar treinador e lamenta ter parado aos 33 anos: “Era mais difícil”. Imagine disputar a artilharia de uma competição acirrada como o Campeonato Brasileiro com nomes como Fred, Adriano, Tardelli, Jonas, Washington e outros tantos goleadores. E, de quebra, ainda ter passagens por Santos e Flamengo e uma artilharia de Série B no currículo.
Mesmo sem ter o mesmo nome de peso e os mesmos holofotes dos atacantes citados, Val Baiano viveu tudo isto. E não tem dúvidas. “Antes era mais difícil que hoje”. Vice-artilheiro do Brasileirão de 2009 vestindo a camisa do Barueri dois anos depois ter sido o maior goleador da Segundona com o Gama, o centroavante se aposentou há aproximadamente cinco anos após algumas tentativas de alongar a carreira. Mas se arrepende aos 37 anos: “O futebol brasileiro está carente de uma camisa 9…. Eu decidi parar por estar insatisfeito com algumas situações. Mas vendo como está hoje, acredito que poderia ter jogado mais. Parei com 33 anos. Eu nunca tive histórico de lesões”.
De volta à terra natal, a cidade de Jequié, na Bahia, Val Baiano conversou com o GloboEsporte.com para falar da carreira.
Investindo em cursos para se tornar treinador e realizar projetos sociais com jovens carentes, o ex-centroavante contou os planos, recordou a passagem pelo Flamengo em que chegou para substituir Adriano Imperador e ainda opinou sobre a carência de goleadores no Brasil. A entrevista você confere abaixo.
Val Baiano técnico e solidário
– Eu venho fazendo alguns cursos e quero fazer o da CBF agora. Vou até ver as datas quando tiver um mais próximo aqui da Bahia. Eu sempre tivesse esse pensamento de virar técnico. Venho fazendo alguns estágios também. Mas penso em focar nas escolinhas. Ajudar as crianças a se destacarem no futebol.
– A Bahia tem muitos talentos e vai além de Vitória e Bahia. Tem a questão do projeto social também. Tirar a garotada do crime, do mundo das drogas. O futebol tem importante papel nisso. Venho trabalhando como empresário também. Cuidando da carreira de alguns jovens. Mas penso em focar nisto. Ajudar os jovens a saírem do crime.
Adaptação é vista como culpada
– Quando eu cheguei no Flamengo em 2010 eu estava fora do país, jogando no México, no Monterrey. E lá o calendário é igual ao europeu. Eu estava dois meses de férias. Cheguei sem condicionamento, sem treino, e tive que pegar um Brasileirão em andamento, sem ritmo de jogo. Eu fiquei 7 jogos sem marcar. Fui fazer no oitavo, quando o Luxemburgo chegou.
– Hoje você vê, o Vitinho ficou 10 jogos sem marcar e é um grande jogador. Isto mostra que jogar aqui é difícil. Tem o caso do Everton Ribeiro também, que não chegou bem, mas agora está resgatando o futebol dos tempos de Cruzeiro. Quando você vem de fora, você precisa passar por uma adaptação.
Apesar de tudo, realizado
– Eu acho que poderia ter tido mais oportunidades no Flamengo, que poderiam ter acreditado mais em mim. Eu jogando ali com o Ronaldinho e o Thiago Neves em 2011 seria incrível. Poderíamos ter feito sucesso. Mas tudo é como Deus quer. O Luxemburgo não quis me manter e eu acabei saindo. Mas sou realizado por ter jogado no meu clube do coração. Eu sempre fui bem tratado lá. Não fiquei o tempo que gostaria, mas guardo boas recordações.
Carência de um camisa 9
– O futebol brasileiro está carente de uma camisa 9, sim. Estamos carentes de centroavantes, um cara que chama a responsabilidade. Que chegue também na Seleção e faça gols. Nós fomos eliminados pela Bélgica em uma Copa do Mundo. Isto não pode acontecer. Temos que ter um goleador que chame a responsabilidade e faça gols.
Disputa era mais acirrada
– Quando eu jogava, o Brasil tinha grandes centroavantes, antes era mais difícil que hoje. Quando eu fui vice-artilheiro do Brasileirão, em 2009, todos os times grandes tinham grandes goleadores. O Atlético-MG tinha o Tardelli. O Flamengo o Adriano, o Fluminense tinha o Fred. O São Paulo tinha o Washington. O Grêmio tinha o Jonas. O Santos tinha o Kleber Pereira fazendo vários gols. E vejo que isto acabou se perdendo um pouco. Hoje você vê o Pedro no Fluminense, que acabou sofrendo esta infelicidade no joelho. O Ricardo Oliveira no Galo, que nãos é mais um jovem. Mas quando analisa o todo, está faltando centroavante. Um cara que chama a responsabilidade e seja decisivo.
Erro pode estar no início
– Eu acho que o erro começo na base. O cara chega com o porte físico bom, é trombador, os técnicos já acham que ele tem futuro. E não é assim. Nem todo mundo é Ronaldo, Romário. Os caras precisam trabalhar a parte técnica e tática. Trabalhar finalização. Tem gente que nasce com o dom, é matador. Mas outros precisam ser trabalhados para virarem goleadores. Os centroavantes são importantes para o futebol.
Val Baiano torcedor
– Eu assisto a todos os jogos do Flamengo. Torço, sofro com o time. Estava muito empolgado com tudo, mas acabamos caindo na Libertadores e perdendo a liderança do Brasileirão. Mas, agora, temos que focar. Mandar bem na Copa do Brasil. Fazer o resultado em casa para não nos complicarmos fora. Precisamos de um título, mas acho que precisamos de mais um centroavante e um zagueiro. Time grande ganha jogo. Mas grupo ganha campeonato. Precisamos de um grupo fechado. O torcedor quer muito comemorar um título.
O currículo de Val Baiano
Natural de Jequié, na Bahia, Val Baiano se tornou um andarilho da bola. Na bagagem, tem passagens por Grêmio Maringá, Paranavaí, Ceará, Santa Cruz, CRB e São Caetano.
No Gama, em 2007, foi artilheiro da Série B. Os gols fizeram o centroavante se transferir para o Al-Ahli Jeddah, da Arábia Saudita.
De volta ao Brasil, fez sucesso no Barueri, onde foi vice-artilheiro do Brasileirão de 2009 e carimbou o passaporte para o México, para atuar no Monterrey, após despertar o interesse do Fluminense.
Foi contratado pelo Fla em 2010 para substituir o Imperador. Mas não conseguiu permanecer para o ano seguinte, em que retornou ao Barueri. Antes de encerrar a carreira atuou ainda pelo Oeste e Penapolense. Desde então, vive na cidade natal, onde pretende ser técnico.
Fonte GE.