Festejos juninos estão entre os mais tradicionais do interior da Bahia e ajuda a movimentar a economia. A seca na Bahia não está prejudicando apenas agricultores que dependem da água da chuva para tirar o sustento. Com mais de 200 municípios e cerca de 4 milhões de pessoas afetadas, a estiagem que atinge o estado, considerada a pior dos últimos 100 anos, ameaça os festejos juninos de muitas cidades que têm neles a principal manifestação popular. O CORREIO ouviu oito das dez cidades mais atingidas pela seca e, ao que tudo indica, a contenção de despesas é quem ditará o ritmo do arrasta-pé.
Em Tucano, no Nordeste do estado, o orçamento do São João sofrerá uma redução de mais de 60% em relação às edições anteriores. De acordo com o secretário de Governo, Clériston Oliveira, este ano serão gastos, no máximo, R$ 400 mil no arraiá de Caldas Quentes, o mais tradicional da cidade e que acontece no distrito de Caldas do Jorro.
“Ano passado e em 2015, investimos cerca de R$ 1 milhão e a festa durou quatro dias. Em outros anos, o nosso São João já chegou a ter cinco dias, mas agora, por conta da seca, tivemos que reduzir tudo”, afirma. Dos três dias de festa, apenas dois serão abertos ao público – o terceiro será privado. Há a expectativa, ainda, da realização de uma festa no distrito de Creguenhem, em 13 de junho, e outra em Poço Redondo, no dia 29. Segundo o secretário, porém, nenhuma das duas está confirmada.
A tendência também será seguida por Anguera, no Centro-Norte baiano. O secretário de Cultura, Esporte e Lazer da cidade, Gilson Ferreira, disse que não é de hoje que a crise vem dando seus passinhos no arrasta-pé.
“Nosso São João sempre teve atrações de nível nacional, como Magníficos, Alcimar Monteiro, mas no ano passado já não foi assim”, diz. O secretario afirmou ainda que o São João será modesto porque a administração está cortando gastos para equilibrar as contas públicas. Ferreira disse que os investimentos deverão girar em torno dos R$ 100 mil.
Contando com vizinhos
A cidade de Xique-Xique, que faz aniversário junto com o santo casamenteiro – Santo Antônio -, não investe alto nas festas juninas por conta da vizinhança com outros grandes arraiás, segundo a prefeitura. O aniversário da cidade, por sua vez, contará com quatro dias de festa. O custo, ainda de acordo com a prefeitura, será rateado com a iniciativa privada. As atrações serão divulgadas até o início do mês maio.
Em Juazeiro, no Vale do São Francisco, segunda cidade mais afetada pela estiagem, a redução da verba municipal destinada aos festejos será em torno de 10% a 20%. Mas a cidade também não tem o São João como a sua principal festa popular, como esclarece o coordenador de eventos do município, Samuel Morais.
“Somos vizinhos de Petrolina (PE) e eles têm o São João muito forte, então nós investimos bastante no Carnaval para equilibrar as coisas. É uma espécie de acordo entre as cidades. Então, nosso investimento no meio do ano fica restrito aos festejos das comunidades, que são menores e existem mais para manter a tradição”, explica Morais.
De acordo com o coordenador, em 2016, foram investidos pouco mais de R$ 200 mil nessas festas, através do projeto São João nas Comunidades: “É um investimento relativamente baixo e nós contratamos sempre artistas de Juazeiro. Essa verba acaba funcionando como um incentivo para girar a economia local”.
O impacto provocado pela seca está sendo sentido, inclusive, pela segunda maior cidade da Bahia. Em Feira de Santana, as festas juninas durarão apenas dois dias e não contarão com os artistas ‘de peso’, uma vez que a verba de cachês também será reduzida. A prefeitura não divulgou os artistas nem o valor estimado dos gastos com o São João, já que, agora, cuida da tradicional micareta da cidade, entre os dias 18 e 21 de maio.
Reciclar é preciso
Guanambi, no Centro-Sul, também irá economizar no São João. O município, com mais de 86 mil habitantes, vai reaproveitar parte da estrutura usada de 2016 na festa deste ano, entre 14 e 20 de junho. De acordo com o chefe de gabinete da Secretaria de Cultura de Guanambi, João Roberto Pina Teixeira, barracas e até parte da decoração usadas em 2016 serão reutilizadas. “Nós também contrataremos bandas menores, investiremos mais nas atrações regionais e no concurso de quadrilha para fazer uma festa bonita e mais em conta. Não terão shows milionários”, diz.
Ainda segundo Teixeira, os prejuízos causados pela seca obrigaram os prestadores de serviço a baixar os custos dos contratos, o que acabou barateando as festas. Ele garantiu que a cidade tem água para o abastecimento humano. Os custos e atrações da festa não foram informados, já que ainda não foram definidos.
Cidades menos afetadas pela seca mantêm investimentos
Na contramão da seca, a festa em Ibicuí, no Centro-Sul, promete esquentar. A estimativa de público para cada um dos quatro dias de forró é de mais de 20 mil pessoas, segundo o coordenador de Comunicação e Eventos de lá, Raimundo Cerqueira. “Estamos trabalhando em ritmo acelerado para fazer uma grande festa. Aqui, graças a Deus, tem chovido bastante, não temos tido problemas com a seca”, relata Cerqueira. As atrações ainda não foram confirmadas.
Cerqueira disse ainda que as festas privadas que acontecem na região também contribuem para aumentar o fluxo de pessoas na cidade e fortalecer a economia local. Também no Centro-Sul, Amargosa é outro destino bastante procurado. De acordo com o prefeito Júlio Pinheiro, não há a possibilidade de cancelamento: “Nós não cogitamos não fazer a festa porque, além da questão cultural, o incremento na economia é muito significativo”.
O comércio chega a aumentar suas vendas em até 70% e cerca de mil imóveis são alugados. No ano passado foram investidos R$ 1,6 milhão na festa. O valor deste ano ainda não foi divulgado.
Fonte: Correio* 24 Horas