Artigo do Jornalista Garcez Almeida.
Em meio ao mar de incertezas decorrente de uma das mais graves crises políticas do país, a União dos Prefeitos da Bahia elegerá no próximo dia 25 o seu novo presidente.
No páreo, dois nomes: os prefeitos de Bom Jesus da Lapa, Eures Ribeiro e o de Euclides da Cunha, Luciano Pinheiro.
Luciano é marinheiro de primeira viagem, embora já tenha sido vereador e atuado nos últimos anos como empresário da construção civil. A pouca rodagem faz com que pouco se saiba sobre sua trajetória política, a não ser a grande simpatia que nutre pelo prefeito de Salvador, ACM Neto e o fato de ter imposto uma grande derrota a um dos velhos caciques da política baiana, o dep. Jose Nunes (PSD), derrotando Val Damasceno com 1.225 votos de vantagem, em cerca de 34 mil votos apurados. Antes, na eleição em que Fátima Nunes, mulher de José Nunes foi reeleita, em 2012, perdeu a disputa com quase cinco mil votos de diferença.
A pouca experiência tem sido usada pelo adversário para fragilizar sua candidatura.
Em nota à imprensa, Luciano criticou Eures Ribero, dizendo que a afirmação é um veneno que vem disseminando por medo do crescimento de sua campanha. “Foi uma indelicadeza com dezenas de prefeitos que como eu foram eleitos agora pela primeira vez e que poderiam presidir a UPB”, rebateu.
Para o prefeito de Euclides da Cunha, “o que não pode ocorrer é o novo presidente da UPB ter sua palavra ou atitudes confrontadas com situações grotescas ou hilárias que coloquem em xeque a credibilidade da própria instituição”.
Pinheiro reconhece que entrou na disputa bem mais tarde, o que segundo ele, não o deixa menos competitivo. “Minha candidatura é fruto da decisão de um grupo de prefeitos que percebeu a existência de interesses que iam além da defesa da instituição e dos prefeitos, por isso a necessidade de candidatura que se colocasse como alternativa ao processo em curso”, afirmou ele.
De Eures, sabe-se mais. É ex-vereador e ex-deputado e está no segundo mandato, reeleito de forma espetacular com 78% dos votos validos. Apoiado pelo governador Rui Costa, o ex governador Jaques Wagner e o senador Otto Alencar, Eures aparece até o momento como favorito, favorecido pelo fato de estar em campanha aberta há muito mais tempo que o adversário que só assumiu a candidatura no início do mês.
Polêmico e controverso, Eures ganhou notoriedade nos últimos meses a partir de uma entrevista, em vídeo, que circulou nas redes sociais, onde aparece dando lições de ética, moralidade, eficiência administrativa e rigor fiscal. Uma entrevista em que, lembram seus adversários, não foi contraditado uma única vez, mesmo que sua gestão apresente um rosário de iniciativas que poderiam criar-lhe grandes embaraços.
Na entrevista Eures ensina que “o prefeito precisa governar com mão de ferro, centralizar as decisões e fazer o enfrentamento com os correligionários que o ajudaram na eleição”. Diz também que as prefeituras não estão em crise e que não faltam recursos. Afirma que concluiu o primeiro mandato com R$ 7 milhões em caixa, dinheiro que seria de precatórios e que entrou na conta da administração municipal antes da campanha. Para comprovar a tese de eficiência administrativa, Eures revela ter demitido 400 c0ncursados “que não trabalhavam e colocavam parentes no lugar”. O sindicato dos servidores do município nega as demissões.
Áudios que passaram a circular na internet se tornaram um problema para a reputação que construiu com a entrevista. Num deles, de agosto de 2015, Eures ataca o PT, seu maior aliado, chama a então presidente Dilma Rousseff, de “assaltante e irresponsável” e pede sua renúncia. Quem acompanhou a eleição no município afirma que as ações e programas sociais dos governos Dilma e Lula e do governo do estado, comandado por petistas, foram os maiores responsáveis por sua reeleição.
Instados a se manifestarem sobre os ataques à ex presidente e ao PT, Rui Costa e Jaques Wagner preferiam o silencio. Já o senador Otto Alencar, presidente do PSD, preferiu dizer que Eures não era do partido quando fez as afirmações.
Na Lapa os adversários do prefeito afirmam que a popularidade que ajudou Eures a conquistar a reeleição se explica pelo controle rigoroso que exerce sobre os meios de comunicação locais, “mantido à custa de generosas verbas públicas e que impedem a veiculação de qualquer crítica à sua gestão”, denuncia o vereador Sinho.
Os mesmos adversários dizem que o discurso que faz de eficiência administrativa, ética e moralidade na gestão pública é um grande engodo e citam como exemplo a recente criação de 5 novas secretarias e vários cargos para abrigar a aliados políticos e reforçar o controle sobre a Câmara Municipal. O município tinha 12 e passou a ter 17 secretarias.
Eures é acusado de usar nos meses que antecederam a campanha, parte dos R$ 43 milhões de recursos oriundos de precatórios do Fundef destinados ao município. Apesar de recomendação pelos tribunais de contas, não há clareza de que esse dinheiro teria que ser obrigatoriamente usado na educação, como afirmam os professores.
A exploração sem licitação do terminal rodoviário de Bom Jesus da Lapa por um secretário municipal é apontada pelo vereador Sinho (PDT) como outro exemplo que colide com a ética pregada pelo prefeito. Agora mesmo, em campanha, tem percorrido o estado em companhia de um “assessor” citado em reportagem da revista Veja por suas relações com um parlamentar baiano investigado na Lava Jato e atualmente preso em Curitiba.
O prefeito foi procurado na prefeitura, mas o funcionário que atendeu disse que não havia assessor de imprensa e que Eures e o secretário de administração que também poderia dar informações, estavam viajando. Várias perguntas foram enviadas a um telefone que seria do prefeito, mas nenhuma resposta foi dada até o fechamento desta matéria.