Em primeiro lugar, desculpe-me pela dubiedade do título acima, mas foi proposital, no sentido de chamar a atenção para o recrudescimento da elevada mortandade no terceiro município da Bahia (atrás de Salvador e Feira de Santana).
Obviamente, não se tata do matadouro convencional, onde animais irracionais são abatidos em larga escala. Refiro-me, infelizmente, ao elevado índice de homicídios nos últimos anos que alçou a tal “Suíça Baiana” ao topo das cidades mais violentas do mundo, superando até mesmo as sangrentas terras colombianas dominadas pelo tráfico de drogas, herança maldita de Pablo Escobar.
À falta de “inspeção”, entenda como ausência do Estado, omissão das autoridades governamentais e desaparelhamento das foças de segurança pública. Ou seja, onde não há enfrentamento legal, o domínio marginal é evidente.
Não é tarefa fácil combater a criminalidade, nem desarmar bandidos, tão pouco fechar “bocas-de-fumo”. Mas, se isso não acontece logo e com um enfretamento legal por meio da força, de que adianta termos polícia com viaturas sucateadas, armas obsoletas e sem estímulo do Estado?
O Leviatã, um Estado e poder judiciário que tem o monopólio do uso legítimo da força, pode desativar a tentação do ataque oportunista, inibir o impulso de vingança e contornar os vieses do interesse próprio que fazem todas as partes acreditarem estar do lado dos anjos.
O comércio (especialmente de drogas) é um jogo de soma positiva no qual todos podem ganhar; à medida que a corrupção vai permitindo a troca de mercadorias e liberdade protetiva entre grupos maiores de “traficantes parceiros”, as outras pessoas tornam-se mais valiosas vivas do que mortas, o que diminui a probabilidade de serem alvo do braço firme da lei.
Na contramão do preconizado pelo escritor Steven Pinker, a violência não diminuiu em termos absolutos ao longo da história de Conquista até os dias de hoje. Essa é a contrária tese central de “Os Anjos Bons da Nossa Natureza”.
Pelo contrário. Os sucessivos assassinatos na “Capital do Sudoeste” – até o momento 41 neste ano (incluindo este na Praça da Escola Normal), tornaram-se verdadeiros parques de diversão, com pessoas ávidas por um registro através da câmera do celular e até mesmo selfies próximo ao copo inerte.
O que vemos são discursos vazios na tribuna da Câmera de Vereadores, em claro e tendencioso viés político, atribuindo culpabilidade à suposta inércia da polícia. Culpados, todos somos. Chega de miopia politiqueira e de tentar tampar o sol com a peneira.
É real entender que todo controle da violência humana surge de métodos eficientes de mediação. Uma das primeiras mediações foi o Estado que, ao exercer o “monopólio da violência”, conseguiu minimizar o círculo vicioso de vingança das hordas sociais e dos bandos. Em vista disso, permito-me apoiar especialmente nas três grandes causas de contenda do homem: domínio, medo e glória.
Desde sempre a humanidade guerreia em nome dessas palavras.
Parafraseando Pinker, apenas um pacto de sujeição ao Leviatã pode evitar uma escalada da guerra de todos contra todos. Mas isso tampouco desativa a violência por completo, pois o conflito passa a se exercer no âmbito político.
Como reza a sentença do estrategista Carl von Clausewitz, a guerra é a “continuação da política por outros meios”. Para evitar isso, é preciso uma “política de dissuasão”. Esse exercício sistemático de dissuasão é o segredo das sociedades modernas.
“Quando nos apercebemos do aumento da violência em Conquista, passamos a ver a cidade de modo diferente. O passado parece menos inocente; o presente, menos sinistro. […] Em vez de perguntar ‘Por que existe violência? ‘, poderíamos indagar ‘Por que existe paz?’. Nossa obsessão poderia ser não só por aquilo que andamos fazendo de errado, mas também por aquilo que estamos fazendo certo. Porque estamos fazendo algo certo, e seria bom saber exatamente o quê.”
Por Celino Souza, jornalista e concursado federal