Depois do sucesso de Anésia Cauaçu, o escritor Domingos Aílton publica outro romance também pela editora Via Litterarum. Antônio Burokô é o título do novo livro do ficcionista jequieense, que narra a história de resistência da religiosidade e cultura afro-brasileira no sertão de Jequié. A obra será lançada dia 9 de outubro às 18h na Biblioteca Pública dos Barris durante o V Eneb – Encontro de Escritores Baianos e às 20h no II Simbanidade – Simpósio Internacional de Baianidade – e II Cillaa – Congresso Internacional de Línguas e Literaturas Africanas e Afro-Brasilidades, na UNEB- Salvador. No dia 16 às 17h é a vez do lançamento acontecer no Espaço da FPC, na Casa do IPHAN, durante a Flica em Cachoeira e dia 29 de outubro, Dia do Livro, o romance será lançado às 19h na Casa da Cultura Pacífico Ribeiro em Jequié. Salvador, Cachoeira e Jequié são locais de cenário do romance.
A mitologia popular afro-brasileira com o fascínio dos orixás, as festas e a resistência do povo de santo à perseguição contra a religiosidade e cultura de origem africana, os saberes e fazeres populares de tradição oral, expressões culturais, a exemplo do grupo de capoeira Banda da Lua e personagens envolventes como Antônio Burokô, Nininha Preta, Lubião, Jerônimo Carvalho, Natur de Assis, Colombo de Novaes, Chico Rebouças, Maria Megê, Irineu Neves e Maria Xangô, compõem o universo deste romance.
Assim como fez em de Anésia Cauaçu, Domingos Ailton também mistura ficção e fatos reais em Antônio Burokô, que tem como cenário a histórica cidade de Cachoeira, no Recôncavo Baiano, o sertão de Jequié e Salvador, a secular “cidade da Bahia”.
Na década de 1940 quando o delegado Anibal Cajaiba de Oliveira persegue em Jequié terreiros de Candomblé, afoxés, batucadas, grupos de capoeira e outras manifestações da religiosidade e da cultura afro-brasileira, o pai de santo Antônio Burokô, proveniente de Cachoeira, no Recôncavo Baiano, chega na cidade e com sua força espiritual deixa confusa e faz até a polícia sambar; os capoeirista do Banda da Lua enfrentam a repressão policial com os golpes dinâmicos e criativos do gingado da capoeira. O contexto político da época, com as discussões e atuações de intelectuais jequieenses durante o período do Estado Novo e da Segunda Guerra Mundial, também faz parte desta produção literária.
Baseado em fatos reais, Antônio Burokô, de Domingos Ailton, faz um passeio pelo universo da religiosidade e da cultura popular baiana. Descreve de maneira etnográfica expressões da religiosidade e das manifestações cultuais da Bahia como o caruru para os santos gêmeos Cosme e Damião, a procissão marítima de Nosso Senhor dos Navegantes, a Lavagem do Bonfim, a Festa de Iemanjá, a Romaria de Bom Jesus da Lapa, a riqueza cultural do bairro Joaquim Romão e o Carnaval em Jequié além de fazer referência aos guardiões da memória, chamados pelo autor de museus vivos do povo, que contam episódios da luta da população pela independência na Bahia.
O romancista revela que a perseguição aos terreiros de Candomblé tem como base o racismo contra os negros e a intolerância religiosa.
A dupla pertença ou a prática do sincretismo religioso tão presente na Bahia onde pessoas frequentam o Candomblé e a Igreja Católica, aparece no romance como um acontecimento que está no inconsciente da memória coletiva.
O livro mostra ainda, misturando ficção com acontecimentos reais, episódios da história de Jequié como o primeiro protesto ecológico que ocorreu na cidade por conta da derrubada de uma gameleira e o toque das cornetas dos guardas municipais às 10 horas da noite, para que as tradicionais famílias se recolhessem e as prostitutas pudessem sair às ruas, o que serviu inspiração para que o consagrado poeta Natur de Assis escrevesse um poema.
Antônio Burokô é uma obra que apresenta com lirismo e habilidade literária a força da resistência da religiosidade e cultura afro-brasileira. Uma história que revela mistério e encantamento, luta e criatividade do saber afro-brasileiro.