Tudo na vida tem seu lado positivo e negativo, a regra não foge para o politicamente correto. Observo as timelines nas mais diversas redes sociais e o assunto da vez é a Vingadora e o hit-chiclete Paredão Metralhadora. Maioria absoluta faz duras críticas a pré-escolha do “trá, trá, trá” como a música do Carnaval de Salvador em 2016. Calma. Nada de oficial.
Não tenho argumentos para defender a composição de Aldo Rebouças e Tays Reis. A utilização das palavras-chave “metralhadora” e “trá, trá, trá” é discutível e levanta polêmica nos tempos atuais. Mas, diante da tempestade criada dentro de uma gota d’água, o politicamente correto (sem generalizar) revela-se como aquela figura intolerante que vê defeito em tudo e cria alarde sobre qualquer tema.
Existe uma frase antiga que diz: “A maldade não está nas palavras de quem fala, e sim no coração de quem as ouve”, autor desconhecido. Boa parte das informações que caem nas redes sociais ganham conotação pessimista, e – quase sempre -, o que poderia passar em branco termina ganhando uma proporção que não merecia. Li em algum lugar que precisamos de mais paz e menos guerra nas mídias sociais. Concordo. É o caso do “trá, trá, trá”.
Se nas décadas de 1980 e 1990 tivéssemos redes sociais a “nega do cabelo duro” (Fricote), do Luiz Caldas, receberia uma avalanche de críticas e nunca seria precursora da Axé Music. Se não fosse ela, talvez o ritmo nem existisse e grandes nomes de nossa música – Ivete, Cláudia, Daniela – não teriam oportunidade para mostrar o seu trabalho.
Posso citar outros exemplos como o Abre a Rodinha, da Sarajane, Jubiabá, de Gerônimo, e a Dança do tchaco, de Tonho Matéria. Nesse período, o objetivo da música na folia era apenas um: proporcionar momentos de diversão. Livres de estigmas e perseguições. Não estou comparando os artistas citados com a Vingadora. Cada um em seu tempo e com seu espaço.
A maioria dos argumentos contra o Paredão faz críticas da ilação da letra com a violência. Uns garantem que a “metralhadora” e o trá, trá trá, faz apologia. Incita facções. Vai transformar os circuitos e bairros em palcos de guerra com direito a rajadas. É desafiar a inteligência. Vou respeitar os politicamente corretos que dançaram abre a rodinha e a nega do cabelo duro. Poderíamos nos arriscar em um teste. Deixar – um pouco – essa polêmica de lado e nos desarmarmos de qualquer pré e pós-conceito. Deixar o ritmo do Paredão, que é legitimamente baiano, alcançar o seu objetivo e nos vestir e divertir. Garanto que trá, trá, trá trará muito mais sorrisos que lágrimas.
Por Alessandro Isabel* é jornalista baiano e atua na Record Bahia e na Rádio Sociedade.