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Hemoba perde 20% de doação de sangue na triagem

Aos 22 anos, a estudante Gabriela Santos sabe a importância da doação de sangue, mas nunca pôde realizar o ato. Vontade para isso não falta, no entanto, o diagnóstico de anemia hereditária a torna inapta para o procedimento. Já para a Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Estado da Bahia (Hemoba), representa uma perda de 20% dos candidatos à doação, já no momento da triagem. E mesmo quando o sangue é coletado, cerca de 5% do produto é perdido na separação de seus componentes.

Para as pessoas que vão receber o sangue, essa é uma perda com sinônimo de segurança, mas que reflete diretamente na capacidade de atendimento aos pacientes. Para manter o estoque considerado seguro, a Hemoba precisa receber mensalmente cerca de 15 mil doadores, mas no mês de agosto recebeu 12,8 mil candidatos, que renderam 9,8 mil bolsas de sangue, taxa considerada crítica.

“Eu sempre tive vontade de doar, mas por causa da anemia, não posso. Acredito que doar sangue é doar uma parte de você ao próximo. É um ato de solidariedade que, assim como eu, muita gente gostaria de realizar, mas não pode, por isso, acho que quem consegue, deve fazer”, declara Gabriela.

De acordo com o diretor da Hemoba, Luiz Cato, qualquer pessoa entre 16 e 69 anos pode doar. Aliado a isso, ter no mínimo 50 kg, estar bem alimentado, descansado, não fumar e não ingerir bebidas alcoólicas são outros critérios considerados básicos para a doação. A formanda Sabrina Oliveira, 22 anos, apesar de estar saudável, não atende a todos eles. Ela tem 1,53 metros de altura e pesa 45kg.

Por isso, apesar da vontade, no momento em que mais desejou contribuir para a recuperação de alguém, ela não pôde. “Minha prima nasceu com uma perfuração gástrica, teve que fazer uma cirurgia e precisou de doação de sangue. Houve uma campanha dentro da família e, infelizmente, eu não pude doar, mesmo estando com a saúde perfeita”, conta Sabrina.

O diretor da Hemoba reforça que esses cuidados são necessários para garantir o bem-estar dos pacientes, mas também dos doadores. Para isso, todos os candidatos passam por uma triagem antes do procedimento. A avaliação consiste em uma entrevista com perguntas sobre hábitos, características físicas e histórico de doenças.

“Tentamos identificar situações que podem trazer riscos para as pessoas que estão doando. Aquelas que são hipertensas, anêmicas ou têm peso baixo, por exemplo. Mas é claro que a maior preocupação tem que ser direcionada para os pacientes que vão receber a transfusão, por já estarem mais debilitadas”, destaca o diretor.

Quem não pode doar?
A anemia, o comportamento de risco para doenças sexualmente transmissíveis, pressão alta, pressão baixa, ingestão de álcool e uso de drogas, são alguns dos aspectos que compõem a lista para inaptidão de um doador, por serem consideradas de risco para o receptor. São duas as categorias: temporárias e definitivas.

As restrições definitivas são para aqueles que têm doença de Parkinson e problemas graves no coração, pulmão, rim ou fígado. O câncer também é um fator impeditivo, assim como a malária. O mesmo é imposto às pessoas que fizeram uso de drogas ilícitas injetáveis e com evidências clínicas ou laboratoriais para o vírus HIV (Aids), hepatites B e C, doença de Chagas, vírus HTLV.

As pessoas com menos de 50 kg também entram na lista, pois a quantidade de sangue está relacionada ao peso do doador: o cálculo é cerca de 8ml/kg em mulheres e 9 ml/kg em homens. Como a quantidade de anticoagulante presente na bolsa de sangue é para mínimo de 400 ml de sangue, uma pessoa com menos de 50 kg não seria capaz de doar essa quantidade mínima.

Já os doadores que apresentem febre ou manifestem sintomas de gripe ou resfriado, por exemplo, precisam esperar sete dias depois do fim dos sintomas. As pessoas que estão passando por episódios de conjuntivite ou diarreia recente e suspeita de covid-19 também não podem doar temporariamente.

Quem fez tatuagem ou colocou piercing nos últimos 12 meses precisa esperar para poder voltar a doar. O período de 1 ano também vale para aqueles que receberam transfusão de sangue ou passaram por grandes cirurgias. O comportamento sexual também define a possibilidade ou não da doação. O ideal para o Sistema Único de Saúde (SUS) é que os voluntários tenham um parceiro fixo.

Comunidade LGBTQIA+ ainda enfrenta preconceito para doar

Até 2020, os homens que tivessem feito sexo com homens nos últimos 12 meses também eram impedidos de doar sangue. Para os que se autodeclaravam homossexuais, a restrição era ainda pior e a doação nem era aceita. Entretanto, apesar de estarmos completando dois anos do decreto que proíbe a discriminação por opção sexual, pessoas da comunidade LGBTQIA+ ainda sentem os efeitos do preconceito.

O bacharel em humanidade, Carlos Augusto, 30 anos, é um deles. “Sempre ouvi de outros amigos gays que não podíamos doar. Fico feliz que isso tenha mudado, mas o estigma ainda faz parte da comunidade e acaba deixando a gente com receio de fazer”, afirma.

Na Bahia, o número de pessoas autodeclaradas homossexuais e bissexuais corresponde a 204 mil baianos, segundo o último levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por isso, para o fundador do Grupo Gay da Bahia, Luiz Mott, a medida representa uma vitória e aponta que a conscientização para uma doação segura deve ser baseada na educação sexual.

“O foco deve ser em ensinar as pessoas a não terem relações desprotegidas, que gerem risco, independentemente da orientação sexual do doador. O preservativo deve continuar sendo a melhor opção”, destaca.

Para o diretor da Hemoba, toda ajuda é bem-vinda. “Os doadores vêm aqui, disponibilizamos o seu tempo e esse ato pode salvar muitas vidas. Todos aqueles que desejam devem vir, pois aqui temos todos os procedimentos para garantir a segurança de quem doa e de quem recebe”.

Solidariedade

Na quarta-feira (31) foi a vez dos soldados do Corpo de Bombeiros Militar da Bahia (CBM-BA) prestarem essa ajuda. Ao todo, 100 deles doaram sangue e realizaram o cadastro de doação de medula óssea.

Para o aluno soldado Bruno Santana, que doou pela primeira vez, o ato também significou uma superação de medo. “Tinha medo de vir, mas quando cheguei aqui percebi que é um procedimento rápido e indolor. Com certeza irei voltar outras vezes”, prometeu.

Todas as dúvidas sobre doação de sangue podem ser esclarecidas através do telefone (71) 3116-5660, ou através do link: http://www.hemoba.ba.gov.br/servico/view/1

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo- do Correio.