O governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel , disse neste domingo (8/11) que a prioridade é buscar as pessoas desaparecidas por causa do rompimento das barragens de rejeito da mineradora Samarco, mas que as chances de serão encontradas com vida estão diminuindo.
“A gente pode, quem sabe, localizar alguém que fugiu que ficou perdido em alguma localidade, que não foi encontrado. Não quero tirar a esperança de ninguém, pode ser que a gente consiga achar alguém com vida ainda, mas a medida que o tempo vai passando a esperança vai diminuindo”, afirmou em entrevista à imprensa em Mariana (MG). O rompimento das barragens destruiu o distrito de Bento Rodrigues, que fica na zona rural de Mariana.
Dos desaparecidos, 13 são funcionários de empresas que prestam serviços à mineradora Samarco, e 13 são moradores do distrito. Entre eles, um bebê de 3 meses e um homem de 70 anos. Até o momento, há confirmação de uma morte.
A Prefeitura de Mariana informou nesta noite de domingo que duas pessoas que eram dadas como desaparecidas após o rompimento de duas barragens da empresa Samarco em Mariana na quinta-feira, 5, foram encontradas.
A causa do rompimento das duas barragens, segundo o governador, ainda não foi esclarecida. A barragem de Fundão, ressaltou, estava licenciada e não apresentava nenhuma falha aparente nesse aspecto.
O governador reconheceu que é preciso melhorar os protocolos de emergência, com a exigência dos alarmes sonoros que lembrou não são obrigatórios de acordo com legislação vigente. As barragens concentravam resíduos do processo de mineração.
A ministra das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, Nilma Lino Gomes, também está na região. Ela visitou famílias desabrigadas que foram levadas para três hotéis de Mariana e discutirá com os municípios envolvidos e com governo do Estado o cumprimento das orientações do Protocolo Nacional Conjunto para Proteção Integral a Crianças e Adolescentes, Pessoas Idosas e Pessoas com Deficiência em Situações de Riscos e Desastres, lançado em 2012.
O documento traz diretrizes e orientações para a garantia plena de direitos para essas pessoas em situações de desastre como, por exemplo, garantias a benefícios socais e, no caso de crianças e adolescentes, que eles continuem frequentando a escola.
Segundo boletim divulgado hoje pelo Serviço Geológico do Brasil, primeiro indício da mudança do nível do Rio Doce na estação de monitoramento de Governador Valadares (MG) foi verificado às 11h30.
A próxima estação de monitoramento a ser atingida pela onda de cheia é Tumiritinga (MG), que fica a 400 quilômetros de Bento Rodrigues. Esta onda de cheia, porém, não irá causar enchentes nos municípios que estão localizados na margem do Rio Doce, segundo as autoridades.
Lama chega a Barra Longa
Do alto de seus 71 anos, o aposentado Antônio Pedro da Costa acompanha atento a retirada de toda a lama que danificou a casa onde morava, em Barra Longa (MG). O município foi atingido pelo que os moradores descrevem como uma avalanche de lama proveniente de duas barragens que se romperam na zona rural de Mariana (MG).
“Vim pra Barra Longa com 9 anos. A última enchente que tivemos aqui foi em 1979, mas foi chuva, água mesmo. Dessa vez, foi só barro”, contou. De chinelo e bermuda, seu Tônho, como é conhecido, caminha em meio à lama e mostra o que sobrou da casa de dois quartos onde vivia com a esposa.
Os dois aposentados conseguiram sair com vida da residência e estão recebendo ajuda de parentes e amigos. A esposa de Antônio está na casa da irmã e ele, na casa de vizinhos. “Quando avisaram sobre a chegada da lama, já era 2 horas da madrugada. Não deu tempo de nada. Só salvou a gente mesmo. O barro pegou muita gente dormindo”.
A comerciante Elísia Dantas, 51 anos, conseguiu salvar o bar que abriu junto com marido na cidade. Mas a casa de quatro quartos onde morava com os filhos e a neta foi tomada pelo barro. A família perdeu também dois carros e uma criação de galinhas.
“Essa catástrofe prejudicou gente demais. Perdemos praticamente tudo. Não tem condição nem de entrar em casa. Era uma casa boa, com sala, copa, cozinha, dois banheiros, varanda e terraço”, contou. Dentro da residência, é possível observar nas paredes uma marca de barro de cerca de um metro meio de altura.
A comerciante ainda não sabe se vai conseguir recuperar a casa. “Pode até ser que dê pra limpar, mas tem que vir alguém pra checar se há condições da gente voltar mesmo. Não sabemos se abalou a estrutura”, disse. Enquanto ninguém aparece, a família se divide na casa de vizinhos, no salão comunitário da cidade e na casa de um parente.
O prefeito de Barra Longa, Fernando José Carneiro, estima os prejuízos em cerca de R$ 12 milhões. “Perdemos escolas, pontes, estradas e casas”. Segundo ele, 42 moradias foram danificadas e 90 famílias estão desabrigadas. Além disso, quatro pontes foram completamente destruídas com a força da chegada da lama, deixando alguns povoados isolados.
“Conseguimos resgatar todos. Só ficou um pessoal no bairro de Barreto. São 42 famílias no total. Estivemos lá de helicóptero e levamos cesta básica, água, remédio. Eles têm condições, mas não conseguem sair porque estão sem ponte para passar”, explicou. A expectativa é que o Exército forneça uma ponte provisória para que o acesso ao local seja reestabelecido.
No bairro do Gesseiro, uma igreja com mais de 100 anos de história está ocupada por mais de seis metros de bairro. “Estou com medo de, na hora que começarem a limpar, ela cair também. Nesse bairro, só ficaram em pé uma casa e essa igreja”, contou o prefeito.
“Todo o povo da região está ajudando. Fiquei até emocionado. Não esperava tanta ajuda”, disse. “Se essa ajuda continuar, vamos conseguir”, concluiu.