O primeiro dia do Enem 2021, realizado neste domingo (21), registrou 26% de faltosos. Dos 3,1 milhões de inscritos esperados, 808 mil não compareceram ao exame. Os dados foram divulgados nesta noite em entrevista coletiva concedida em Brasília pelo ministro da Educação, Milton Ribeiro, e pelo presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), Danilo Dupas Ribeiro.
Na prova impressa, a abstenção foi de 25,5%. Já na aplicação digital, que teve 69 mil inscrições confirmadas, a taxa de faltosos foi de 46,1% Dessa forma, fizeram a prova 2,3 milhões de inscritos. Na última edição do exame, mais da metade faltou. A prova havia sido realizada em meio ao aumento de casos de Covid-19 no país. Apesar do alto índice de faltas, Ribeiro classificou o exame como um sucesso.
O Enem é a principal porta de entrada para o ensino superior. Esta edição já começou marcada por receber o menor número de inscrições dos últimos 14 anos, além registrar a menor proporção de inscritos pretos, pardos, indígenas e pobres. Às vésperas do início do Enem, servidores do Inep, órgão responsável pela elaboração da prova, fizeram uma série de denúncias sobre assédio moral que sofreram para suprimir perguntas com temas considerados inadequados pela gestão do órgão.
O ministro voltou a defender que não houve interferência. “Hoje podemos ver que toda essa narrativa que tínhamos, de partido de oposição e até de meio de cominicação, de uma possível interferência na prova, não tinha cabimento.”
A Folha mostrou que o próprio presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pediu ao ministro da Educação, Milton Ribeiro, para que houvesse questões que tratassem o Golpe Militar de 1964 como uma revolução.
A reportagem mostrou que as equipes envolvidas na elaboração da prova buscaram equilíbrio entre essa pressão, o atendimento à matriz de conteúdos do Enem e a coerência estatística da prova.
Segundo servidores, a própria escassez de itens prontos para serem usados impediu que houvesse muitas trocas de questões. Bolsonaro e apoiadores fazem críticas recorrentes ao exame sob o argumento de que há questões com temas de esquerda.
Apesar das denúncias de pressão, a prova abordou questões sobre minorias, como população indígena, população carcerária e desigualdade de gênero. O exame teve questões com a música “Admirável Gado Novo”, do cantor Zé Ramalho.
No entanto, nenhuma questão da prova abordou a ditadura militar no país. Desde o início do governo Bolsonaro, o período histórico foi suprimido da prova.
Para justificar o desejo de alterações no Enem e o veto a determinados temas, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e sua equipe têm criticado questões que classificaram como ideológicas –perguntas que, segundo eles, promoveriam “doutrinação” em vez de medir o conhecimento dos candidatos.
Mas análise estatística inédita feita pela Folha mostra o contrário: questões que causaram polêmica entre conservadores foram eficientes em testar o conhecimento técnico dos participantes nas áreas avaliadas pelo exame.
Os participantes fizeram neste domingo as provas de linguagens, ciências humanas e a redação. Os inscritos tiveram que escrever um texto a partir do tema “Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil’. A proposta surpreendeu os educadores por ter mantido o padrão de anos anteriores ao abordar assunto relacionado aos direitos humanos.
No próximo domingo, é a vez das provas de matemática e ciências da natureza. Outros 280.145 inscritos farão o Enem nos dias 9 e 16 de janeiro de 2022, nas datas da reaplicação do exame (para eventuais casos de falhas na aplicação, como falta de energia, ou para quem comprove ter contraído Covid-19) e da aplicação para pessoas privadas de liberdade.
O grupo faz parte dos inscritos que conseguiram se inscrever com isenção após decisão do STF (Supremo Tribunal Federal). O governo havia se recusado a liberar isenções aos faltosos da última edição, realizada em momento crítico da pandemia.