
Renê Silva é Pedagogo, Especialista em Fundamentos Sociais e Políticos da Educação, Mestre em Educação pela UESB.
O contexto atual da pandemia da COVID-19, expôs muitas das mazelas presentes historicamente na educação pública brasileira. Tenho dito que, os desafios expostos para o desenvolvimento do trabalho em educação, de forma remota, são os mesmos que temos enfrentado desde sempre para superação do instrucionismo e da compulsão pela quantificação enraizados nas nossas práticas educativas escolares.
O professor Miguel Arroyo, nos chamava a atenção em 2013, de que os currículos, o que ensinar, estava marcando “nossas identidades profissionais como referente único”. PROFESSOR COMO AULISTA, responsável por passar a matéria, “sem outras atividades que nos desvirtuem dessa função nos tempos de aula”. Nós, professores, sempre vivenciamos a contradição entre garantir o conteúdo, “atender ou renunciar os alunos, seus problemas, suas inseguranças, seus processos tensos de formação moral, cultural, identitária”…
Tem alguns anos, que digo que, para atender as políticas educacionais pensadas e implementadas de forma verticalizada, alinhadas ao interesse de “fornecer os conhecimentos e o pessoal necessário à maquinaria produtiva em expansão do sistema do capital, como também gerar e transmitir um quadro de valores que legitima os interesses dominantes” (Mészáros), não será mais necessário que os profissionais da educação precisem passar por um curso de graduação em nível superior e mais ainda, ter a necessidade de prosseguimento em estudos de cursos de pós-graduação. Basta concluir minimamente o Ensino Médio, e receber o treinamento adequado para aplicar os “módulos docentes”, pensados por um seleto grupo de eleitos, e consequentemente aplicar os “módulos dos estudantes”, através da já milenar prática instrucionista com suas atualizações travestidas de inovação. Vivenciamos programas de formação que até a rotina de desenvolvimento das atividades em sala de aula pelo professor já vinha como “sugestão”.
Na avaliação de Arroyo, “avançávamos para articular o ensinar e educar no novo tecnicismo das políticas de ensino por competências e de avaliação por resultados”, sendo pressionados a manter o foco apenas nos conteúdos que cairão nas provinhas e provões oficiais. Denunciava ainda que os “controles do sistema, das diretrizes, dos ordenamentos curriculares e disciplinares, das avaliações continuarão rígidos, cada vez mais sofisticados, reagindo a esse crescimento das autorias docentes”. Seu prognóstico parece ter sido assertivo.